Crianças precisam se comportar em restaurantes?

Qual o limite do “criança sendo criança” em restaurantes?

 

Esses dias fomos almoçar em um restaurante muito charmoso em Gramado. Uma casinha linda com uma comida maravilhosa. A clientela era variada: casais, famílias com e sem crianças, alguns bebezinhos. Até aí normal, Gramado é sempre assim.

Logo depois chega um casal com uma criança de uns cinco anos. O menino resolveu que tudo bem imitar uma ambulância. Alto. Por uma hora contado no relógio sem parar. Não dava pra mudar de mesa. O restaurante era uma casinha pequena, poucas mesas.

Nosso almoço foi longo. Minha mãe adora esse restaurante e tínhamos recém-chegado de Porto Alegre, depois de um voo vindo do Rio de Janeiro. Quer dizer: todo mundo cansadinho querendo um chamego em forma de filé ao molho de frutas vermelhas, entrada, vinho, sobremesa. E essa criança fazendo um barulho intermitente, alto, chato. Incomodando.

Crianças precisam se comportar em restaurantes?

Tento sempre ter empatia. Eu sempre penso na história do outro. De repente a criança está doente, o casal está infeliz, a família não está num dia legal. Mas aí penso: será que precisamos submeter o mundo a nossa infelicidade? Não é uma atitude babaca ser grosseira com o porteiro por que seu namorado te chifrou e você está com raiva do mundo? Sou solidária a sua dor, mas alto lá.

Fiquei com vontade de oferecer Victoria para entreter a criança entediada que estava, claramente, perturbando todo o restaurante. Um casal de senhores chegou, ouviu o barulho e disseram baixinho “vamos para um lugar mais calmo”. Os pais, com a mesma cara estavam e com a mesma cara ficaram conversando entre eles. E a criança imitando a ambulância, ficava passando um carrinho pelas paredes, enchendo o saco.

Importantíssimo dizer que Victoria está longe de ser uma criança calma, mas eu passo boa parte do meu tempo pedindo para ela não comer com a mão, sentar direito com as pernas pra frente, não abrir pacotinho de sal, tirar o volume do IPad, não colocar o gibi em cima do prato de comida. É um porre, mas isso se chama educar.

Minha mãe sempre me disse que criar é fácil, educar é que são elas. Sempre achei essa frase meio doida. Mas acho que esse final de semana compreendi.

Tô bem longe de ser a mãe perfeita. Tenho inúmeros defeitos e acho que falta de paciência é o maior deles. Tem que ter paciência para criar. Para educar. E eu nasci meio desprovida de paciência. Mas é uma luta diária, né? A gente achar motivação para mudar por algo muito importante?

 

Vou dizer uma coisa bem polêmica

Eu sempre fui muito consciente de até onde vai o meu limite em lugares públicos. Detesto incomodar, não quero cara feia para o meu lado. Victoria nunca teve a chance de ser a criança que corre entre as mesas do restaurante. Será que sou muito rígida?

E eu acho que um casal sem filhos tem o direito de almoçar sem ser obrigada a lidar com a criança do lado que tacou todos os talheres da mesa no chão enquanto os pais não conseguiam conter o filho. Tô errada? Não estou sendo empática o suficiente?

Imagina você, chateadíssima por que acabou de perder o emprego. Precisa de afago, de comer uma sobremesa de chocolate de três andares, tomar um chá. Precisa de um tempo para organizar os pensamentos, pra saber como vai pagar o aluguel do mês seguinte. E aí tem uma mãe conversando animadíssima com a amiga, enquanto os dois filhos dela estão tocando o terror no café, desde puxar o rabo do gato, correr entre as mesas, derrubar todos os pacotinhos de açúcar no chão e pisar em cima? E nada disso vai ser feito em silêncio, concorda?

Só a pobre mãe estafada merece empatia? A moça solitária com a sua sobremesa que está tendo um dia de merda, não merece?

Até aonde podemos usar a desculpa “a criança está só sendo criança mesmo. Deixa ela”?

A gente nunca sabe qual é a história do outro. Nem a da mãe estafada e nem a da moça que perdeu o emprego. Por isso que não podemos ser selvagens em público. Por que existe uma coisa chamada convivência coletiva. E isso se aplica a todo mundo. Não só aos pais.

Um erro justifica o outro?

Sim. Adultos também são sem noção. Bebem demais, falam alto, discutem, falam palavrão na frente dos seus filhos, são grosseiros com os funcionários do estabelecimento. Um erro justifica o outro? Será que esses adultos sem noção foram as crianças sem limites do passado?

Eu sou a pessoa que levanta e vai embora por que a filha está impossível e eu não tenho energia para contê-la

Já disse aqui que Victoria é dá pá virada? Sim, eu já fui uma mãe exausta de bebê. Lembro que ela tinha um aninho e a gente tinha uma técnica de sair pra almoçar na hora da soneca da tarde. Levávamos uma Victoria bêbada de sono pro carro, ela dormia embalada na viagem, colocávamos ela super confortável no carrinho e almoçávamos em paz. De vez em quando a gente conseguia comer até a sobremesa.

Mas a técnica já deu errado, ela ficou cansada, com sono, chorando sem parar e, mais de uma vez, olhei resignada pro marido e disse: “manda embalar pra viagem e vamos comer em casa”. Não só por que ela estava inconsolável chorando sem parar e incomodando as pessoas, mas por que como eu conseguiria relaxar e aproveitar um almoço de domingo com o marido, com um bebê exausto sem dormir?

Por que tem isso.

Sua criança encapetada, seu bebê com cólicas não está só enchendo o saco de 28 pessoas que estão almoçando nas suas imediações. Ele também está testando a sua paciência, o seu limite, te estressando. Como alguém consegue conversar animadamente com a amiga enquanto os filhos estão tacando fogo no café? Eu jamais relaxaria numa situação dessas.

O que me lembra um dia que Victoria acordou cheia de energia e eu queria muito tomar brunch com as minhas amigas. Nenhuma delas têm filhos. Pra mim é ótimo por que todas elas viram mães emprestadas. Mas esse dia ela estava com aquela energia contida de alguém que vai tirar a roupa pela cabeça e correr pelada pela rua. Minhas amigas, solidárias.

Saímos do brunch e fomos olhar as modas na rua ao lado. Entre um ateliê e outro, Victoria estava no momento se escondendo entre as roupas e puxando o rabo do gato. Eu sentei no banco de fora com um chá, inconsolável.

Minha amiga traz a Victoria e me diz: “dá um jeito aí que o dono tá olhando de cara feia pra gente”.

Peguei minha tristeza de não conseguir passar o dia com as minhas amigas fazendo coisas de adultos, peguei minha filha que estava com a cara suja de nem sei o que, peguei um taxi e fui pra Lagoa pra ela correr e gastar energia e não precisar se conter. Fiquei com dor de cotovelo, amaldiçoei os hipsters que não estavam sendo empáticos a minha necessidade de ser mãe solteira querendo curtir as amigas, mas fui obrigada a enfiar a minha viola no saco. Não, eu não acho que eles sejam obrigados a aturar criança virada no Jiraya.

Aí me digam. Tô errada? Eu deveria ser da turma do deixa disso? Eu deveria ter empatia só com as mães e dane-se o mundo? Deveria colocar na conta da turma dos adultos mal-educados? COMO VOCÊS AGEM? Queria muito saber.

 

Leia mais: DICAS PARA FREQUENTAR RESTAURANTES EM PAZ

 

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3 Comentários

  1. Rita
    4 de junho de 2018 at 11:53 — Responder

    Camila, eu acho que você está certíssima. Sempre tive esta mesma opinião , mesmo antes de ser mãe de um quase hiperativo menininho de quase 2 anos. Mantenho minha opinião mais do que nunca.

  2. Manoella
    4 de junho de 2018 at 11:53 — Responder

    Tá certa! concordo! Confesso que quando vi o título do artigo fiquei com medo de o conteúdo ser exatamente o oposto. Tem que ensinar educação pras crianças, e isso é tarefa cansativa que cabe aos pais! Apoiada!

  3. Camila
    2 de julho de 2019 at 19:30 — Responder

    Camila sou sua xará!! Amei seu texto, de uma leveza totalmente compreensível. Acho que os pais devem ter empatia sim e aprender a respeitar o espaço dos outros, quem não tem filhos por opção ou não, tem o direito de viver em paz! Um grande abraço!

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