Socorro, minha filha é bagunceira!

A maternidade é um conjunto de dramas que precisam ser resolvidos, refletidos, pesquisados e observados. Desde que a Vicky nasceu, a sensação que eu tenho é a de estar constantemente sendo confrontada por alguma coisa que eu deveria estar prestando atenção e que, naturalmente, papei mosca.

E o drama dos últimos tempos se chama: bagunça e desorganização.

Minha casa é arrumada diariamente. Enquanto Vicky está na escola e eu estou me matando de trabalhar, tenho uma empregada que cuida com muito esmero da minha vida doméstica. Eu e pirralha saímos de casa as 9:30h da manhã e só chegamos em casa bem depois das 19h. Eis que enquanto eu troco de roupa, faço o jantar e preparo o terceiro turno do dia, Vicky está cuidando de seus afazeres: tira o uniforme, toma uma ducha, coloca o pijama, liga a TV e pega um brinquedo ou caderno para colorir. Resultado: em meia hora a casa já está o caos: o sapato ficou na sala, o uniforme está jogado no chão ao lado do cesto de roupas sujas, o banheiro está uma piscina, a toalha ficou pelo corredor, ela revirou a gaveta em busca da camisola predileta e o sofá já tem uma marca de canetinha. Se ela estiver atrás da sua boneca, ferrou: os cestos já estão revirados e os brinquedos no chão.

O pai já veio conversar comigo que na casa dele é igual e quando ela está lá parece que teve um terremoto. Na escola, a avaliação de desempenho atestou que ela tem dificuldades de cuidar dos seus pertences. Na casa da minha mãe ela proibiu brinquedos com massinha e toda vez que eu vou buscá-la lá, exausta de algum compromisso noturno, ainda tenho que arrumar os brinquedos que minha pequena diva deixou espalhado na sala de TV.

Tento criá-la para ser uma pequenina independente e, aos cinco anos recém completados acho que estou caminhando para isso. Mas também sei que estou falhando nesse aspecto e acho que agora é o momento ideal para corrigir esse, que eu acho que é um defeito grave.

E eu comecei assim:

Identificando o problema

  • Victoria está sempre atrasada pela manhã. Se distrai com um brinquedo ou TV e não faz as tarefas matinais (tomar banho, tomar café, se vestir, escovar os dentes), sem que eu precise chamar repetidas vezes;
  • Está sempre reclamando de cansaço ou preguiça, toda vez que precisa fazer algo que não quer;
  • É completamente apegada a tudo que tem e não consegue doar seus brinquedos e nem suas roupas e sapatos que não cabem mais. O resultado é que as coisas “somem” do seu quarto, pois eu faço a limpa sem que ela esteja em casa. Na maioria das vezes ela não percebe;
  • Não arruma seus brinquedos. Chora, faz drama dizendo que está com dores na perna, joelho, mão etc., fica agressiva quando o drama não cola, depois pede ajuda e no final das contas me vence pelo cansaço;
  • Se uma amiga vai brincar em casa e elas fazem bagunça no quarto, eu peço que depois coloquem os brinquedos nas caixas. Invariavelmente, a amiga convidada faz todo o serviço enquanto ela fica de bobeira;
  • Não tem foco e se irrita quando é chamada atenção repetidas vezes pelas tarefas que não está realizando.

Como resolvi me organizar para ajudá-la?

Praticando o desapego

  • Ela fez aniversário recentemente e com uma grande festa, o que significou muitos presentes. Todos, com exceção de dois jogos de massinha e duas bonecas, estão guardados no escritório e trancados a chave. O combinado é que os presentes só vão para uso quando fizermos uma limpeza profunda nos seus sapatos, roupas e brinquedos;
  • Bichos de pelúcia e bonecas se proliferam na minha casa. São suas coisas favoritas, mas ainda assim não há necessidade de se ter tanto. Combinamos que eu estipularei um número, decidiremos juntas o que vamos manter e o resto nós vamos juntas limpar, endireitar e doar para as crianças do orfanato pessoalmente. Além disso, todos os seus brinquedos precisarão caber na prateleira, dentro do baú e nos seus dois baldes. Se não couber, precisará ter menos;
  • Nova decoração no quarto: o quarto está meio com cara de “criança acumuladora” pelo excesso de brinquedos, decoração inadequada para a idade e sem personalidade. Acho que assim também daremos novo uso para móveis antigos e a repaginada vai dar outro astral;
  • Rodízio de livros: somos leitoras compulsivas. Além do mais, trabalho no mercado editorial e com isso ganhamos e compramos toneladas de livros. Anualmente eu faço uma limpa, doando livros para instituições carentes e vendendo centenas de exemplares para o sebo. Mas, mesmo fazendo esse desapego, temos muito. E ela ainda não foi alfabetizada, de forma que eu acho que ela vai querer ler (ela mesma) seus livros no futuro. Por isso vou deixar uma estante no meu escritório para a biblioteca dela, mas o seu cantinho da leitura vai ter somente uma pequena estante que cabem uns 15 exemplares. Farei rodízio frequente;

Criando regras de organização pessoal

  • Reforçar o ritual de chegar em casa diariamente, ao lado dela, para que ela não se distraia e nem saia espalhando coisas: O ritual é sempre igual: tira o sapato e coloca na área de serviço; tira o uniforme e coloca na caixa de roupa suja; toma banho; lava a calcinha no banho; coloca o pijama; janta ou lancha; coloca o prato na pia; passa lencinho na mesinha onde ela come para limpar as sujeirinhas; brincar organizadamente e ver TV até a hora de dormir; escolhe a historinha da noite; lemos e ela dorme.
  • Na hora de brincar não deixar a bagunça desorganizada tomar conta. Se terminou de brincar de quebra-cabeça, então tenho que fazê-la guardar para depois brincar de boneca, e assim por diante. Dessa maneira não fica tão difícil guardar tudo depois.
  • Vigilância constante: remover brinquedos que já sejam ultrapassados para a idade e não deixar acumular em quantidade. Quanto mais brinquedos, mais zona;
  • Na hora de comer, ajudá-la a ter mais “modos” e não fazer tanta sujeira na mesa, no chão e nela própria;
  • Estojo escolar: toda semana deveremos limpar o estojo (a nova moda é colecionar ponta de lápis apontado), contar se todo o material está dentro e tentar fazê-la explicar racionalmente onde foi que ela perdeu a trigésima borracha do semestre. Fazê-la prestar atenção ao que tem talvez possa ajudá-la a observar onde estão suas coisas;
  • Participação ativa: a melhor forma de fazer a criança focar na sua própria organização e a de seus pertences é lembrá-la constantemente de suas tarefas e das coisas ao seu redor. Se eu verifico o estojo sozinha, dou conta da falta da borracha e simplesmente coloco outra no lugar, não estou ajudando em nada. Lembrá-la da borracha, questioná-la, ouvir com interesse para só depois substituir o material perdido (depois de fazer perguntá-la na escola se alguém achou) é atribuir responsabilidade à criança, que com o tempo vai ficar mais atenta.

Mea culpa

Analisando em retrospecto, acho que existem alguns problemas:

  • Eu me aproveito da sua independência para deixá-la sem supervisão. Se ela não tem quem a oriente, ela faz do seu jeito. Como ela é impaciente, faz de qualquer jeito. Por isso, acho que terei que focar nela e orientá-la melhor.
  • Outro problema é minha própria organização de vida que está de mal a pior. Enquanto escrevia este post, percebi que muitos dos problemas da Victoria são também os meus, mas em uma escala diferente. E crianças aprendem por observação. Não estou sendo o melhor dos exemplos.
  • Minha vida é um corre-corre digno de qualquer gincana ou corrida de saco. Não há nada que eu possa fazer para melhorar isso a curto prazo, por isso terei que fazer melhor, com o pouco tempo que eu tenho para realizar tarefas com minha pequenina.

Boa sorte pra mim. E, por favor, quem tiver sugestões, escreva nos comentários. Toda ajuda é bem-vinda.

 

 

Imagem destacada: Pinterest

 

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1 Comment

  1. Daniela Maia
    2 de setembro de 2015 at 11:04 — Responder

    Oi Camila, tudo bem? Lá em casa era o caos, eu não tenho empregada como você, então precisei tomar algumas providências. Primeiro, tenho 2, e a louça é com eles. Num dia um lava a do almoço e outro a do jantar, no dia seguinte, alterna. Roupa eu lavo e cada um estende a sua. Mas a bagunça pelo meio da casa é constante, começa pela mochila que a menor larga no carro e eu tenho que mandar pegar, todo dia, mas é todo dia mesmo. Sem contar copo pela sala, roupa no chão do banheiro, do quarto, nunca colocam no cesto. Brinquedo então, passa de 2 dias no meio da sala, eu não guardo, mas hoje por exemplo que o trailler tá lá entulhando desde segunda, ameaço jogar no lixo, ela vai e guarda. É desgastante, mas não faço por eles. O quarto do maior durante o dia é uma zona, ele só arruma de noite e sob ameaça, mas arruma. O maior lava o banheiro deles todo sábado, a menor tira o lixo dos cestos todo dia, mas ainda falta muita coisa, vou devagar. P/ incentivar, sempre peço p/ colocarem a mesa p/ refeições, montamos mini pizza juntos, fazemos bolo juntos, sabe pequenas coisas que eles adoram? Sempre incluindo os dois. O quarto da menor tá sempre arrumado, as gavetas também, eu ensinei poucas vezes e ela faz com gosto, em contrapartida não suporta pentear os cabelos. E eu acho que é assim, não dá p/ pedir perfeição e nem ser rígida demais. Tenta incluí-la nas tuas tarefas, chama p/ te ajudar com o jantar, pede p/ ela colocar a mesa, pegar o suco, eles amam isso.

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