Mãe, quero ser igual a você

Mãe, quero ser igual a você. Passei os primeiros anos de vida da Vicky ouvindo de todo mundo o quanto ela era a cara do pai. Eu até enxergava coisas dela em mim, mas não adiantou muito eu mostrar onde ela era toda eu, que ninguém mais enxergava. Aí eu fiquei quieta.

O problema é que a patrulha da sem noçãozice de sempre nunca parou para pensar no que esse eterno discurso “ela é a cara do pai” estava fazendo com ela.

Ela se sentiu só

Começou quando eu comecei um processo de emagrecimento e precisei conversar com ela sobre isso. O post Mamãe tá de dieta conta tudo.

Depois seguiu quando ela começou a se ligar mais em moda, roupa, a se adequar na nova escola, com as novas amigas. A gente se olhava mais no espelho, experimentava roupas, fazia todo aquele ritual feminino, que acontece muito em uma casa onde só mora mulheres. Um dia ele me saca um “eu sou mesmo a cara do meu pai”. Eu fiquei p da minha vida, por que ela não estava nem achando isso, tava só reproduzindo um papinho que não cabia mais, sabe?

Eu nem pestanejei e peguei o álbum de fotos e fui mostrando como tínhamos o mesmo corte de cabelo, o mesmo olhar, o mesmo tom de pele. Falei do nosso biotipo (tadinha, ninguém mais na família precisava de um bumbum grande pra sofrer no futuro :D), da nossa personalidade. Claro que ela seria parecida com o pai dela. Mas que ela jamais não seria parecida de jeito nenhum comigo. Ela era minha filha também.

Deu uma crise na sensação de pertencimento

Culminou em um dia sensível. Estávamos no meu quarto. Eu estava desembaraçando o cabelo lisíssimo e longo dela com um pente. Tínhamos saído do banho e o meu, que é curto e ondulado,  tava resolvido em dois segundos.

Foi um chororô, naturalmente se olhando pro espelho:

– Mãe eu nem pareço sua filha. Seu cabelo é curto e é ondulado e o meu é liso e eu queria ter um cabelo igual ao seu. Por que a gente foi ter cabelo diferente?

Gente, meia hora chorando nessa vibe de cabelo. Peguei minha bitela de 30kg no colo e fomos pra cama conversar.

Falamos sobre como eu tinha cabelo liso na idade dela, mas que depois de adulta ondulou; falamos que ela seria sempre a minha filha e que pra ser filha não precisava ser igual.

Aí eu falei algo que fez ela refletir

– Se para ser filho precisa parecer, o que acontece com os filhos adotados? Filhos adotados são menos filhos por que não se parecem fisicamente com seus pais?

Na hora rolou uma irritação, pois seu melhor amigo na escola é adotado e ela sentiu que precisava defende-lo. Foi entendendo que pertencimento é importante, mas que isso não tem a ver com parecer fisicamente com seus pais.

O que faz de uma mãe uma mãe?

Perguntei pra ela o que fazia de mim uma mãe. Ela pensou e ia começar a falar da barriga, mas lembrou do amigo adotado e não completou a frase. Então ela falou que a mãe cuidava, não deixava sozinha em casa, ajudava no dever, comprava o que ela precisava e de vez em quando aquilo que era queria. Levava para comprar material da escola, que deixava dormir agarradinha, que sempre sabia tudo, que sempre dava amor, que de vez em quando dava bronca.

 

Mãe, quero ser igual a você

Mãe é aquela que ama todo dia e pra sempre, mesmo quando a criança não se comporta. Mesmo quando for adulto e não morar mais junto.

 

Taí gente. Minha pequena Vickylinda resumiu em duas pequenas frases o amor incondicional.

 

 

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2 Comentários

  1. 19 de junho de 2018 at 14:54 — Responder

    Que história interessante, me identifiquei muito com esse acontecido, tenho uma filha de 7 anos, tudo que eu faço ela quer fazer igual, principalmente a forma de se vestir rs.

    Parabéns a Autora.

    • Camila
      28 de junho de 2018 at 11:01 — Responder

      Oi Ana Paula, ele tem muito essa coisa de identificação comigo. Toda hora menciona alguma coisa. Lindo de ver.

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