Mãe, eu não quero mais ouvir

 

Todo dia, sempre igual. Chega da escola, tira o uniforme, coloca na caixa de roupa suja, tênis no quarto, vai tomar uma ducha que tá muito calor, enquanto isso faço o jantar, depois dever de casa, depois um pouco de brincadeira, vamos ler um livro e cama. Certo?

Errado.

O dia a dia não é simples na casa das meninas Perlingeiro. Era pra ser uma rotina simples e tranquila. Victoria já está grande, ela entende que a gente é mais feliz com uma casa arrumada sem roupa pelo chão. E se fizer o dever rapidinho tem mais tempo pra curtir e na parte da manhã é só brincar. E pelamor, tá um calor do cão nesse ridijanero, banho é vida.

Só que não.

Todo dia eu fico sendo a bruxa do 73, falando, rosnando, ameaçando. Todo dia eu sou aquela que fica enumerando os afazeres, que pede paciência à Deusa, por que ela sabe que eu não nasci pra ficar me repetindo.

Mas eu só faço isso.

Toda noite eu luto pra colocar Victoria no banho, implorando pra roupa cair no cesto de total suja e não no chão, pra não tropeçar em Melissa, pro dever de casa sair, pelo menos, com uma letra decente.

Aqui só queremos trabalhar com YouTube, Gloob, Netflix e livros. E bonecas. E livros de colorir/atividades. E álbum de figurinhas.

Mãe, não quero mais ouvir.

E ainda tem o momento respostinhas, que é pra eu me irritar e terminar o dia com chave de ouro. A respostinha da vez foi essa. Não quer mais me ouvir falar. Perdi o pouco de paciência que me restava e disse que pra me ver quieta bastava fazer suas tarefas sem precisar ser lembrada.

Todo dia a mesma coisa. E eu tô cansada. Muito cansada. Tem dias que eu ando sentando e chorando no quarto, por que essa fase está sendo especialmente difícil.

Mas eu também acho que venho dizendo isso desde que ela nasceu.

Toda fase é complicada e aos quase oito anos, esse final da primeira infância está vindo cheio de gracinhas, deboche e mau-humor.

Fico me perguntando onde foi parar toda disciplina positiva, a criação com apego, a amamentação em livre demanda, a educação construtivista, a cama compartilhada, se tudo o que eu faço agora é me aborrecer com malcriações infinitas e ainda cheia de certezas.

Sim. É mais teste de limites. É mais desenvolvimento dessa personalidade forte, de líder, de moça que vai botar pra quebrar.

Um dia vou me orgulhar dela, dessa voz que não titubeia, dessa mente rápida no gatilho, dessas mãos na cintura bradando pelos seus direitos.

Mas não hoje.

Não enquanto estamos discutindo aos berros por que tomar banho duas vezes ao dia é necessário enquanto o Rio de Janeiro ainda ostentar quase 40oC.

 

imagem: Unsplash

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2 Comentários

  1. Daniela Maia
    27 de Março de 2018 at 10:52 — Responder

    Espera ela chegar aos 11 anos p você ver. Meu Deus de céu! Tem dia que eu quero fugir p montes

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