Coisas legais sobre nossos filhos no fim da primeira infância

Essa semana me dei conta de que os oito anos da Vickylinda estão chegando a passos largos e vejo uma moça do meu lado, muito mais do que uma menininha e, tomo sustos diariamente me perguntando onde se escondeu a minha garotinha.

 

Confesso que o fim da primeira infância é um pouquinho dolorido. Se você, como eu, não teve outros filhos, a casa é desprovida de bebês, de cheirinho de bebê, daquela bagunça gostosa das primeiras descobertas.

A gente se esquece rápido dos perrengues. Certamente tem algo no cérebro materno que faz com que a gente diminua a fase punk-hardcore-sinistra que é não dormir, amamentar em livre demanda, amamentar de forma prolongada, os dentes, aquela fase interminável de vacinas frequentes, desfralde, a primeira escolinha, etc.

A gente esquece. Prometo.

Aos 44 eu já tirei da minha cabeça essa coisa de “mais um bebê”. Por um tempo debati, mas acho que não queria o suficiente, senão tinha tomado uma providência. Marido ou relação estável não é nem a desculpa que eu dou pra mim. No alto da minha independência, essa foi a menor das minhas questões.

Mas a verdade é que Vickylinda é filha única e assim seguimos vivendo nós duas. E a chama da primeira infância se extinguiu aqui e o que me resta é essa garotona que, de vez em quando, não reconheço, mas que estou aprendendo a curtir. E muito.

 

Coisas legais sobre nossos filhos no fim da primeira infância

 

O fim da primeira infância também é muito positivo e eu explico por que:

 

1- É mais fácil fazer com que eles compreendam conversas e se envolvam com as questões familiares.

2- É necessário deixar que tomem a frente de seus conflitos e dou um exemplo recente. O pai não pode comparecer a uma apresentação na escola que aconteceu em dia de semana, na parte da tarde. Eu fui, mas aos trancos e barrancos. Ela reclamou que o pai não foi. Eu sabia o motivo, pois o pai havia me avisado que estava pegado no escritório. Mas a história não é minha, certo? Quando ela reclamou eu disse: acho que você não pode reclamar comigo. Telefona agora pro seu pai e conversa com ele.

3- O fim da primeira infância não significa adolescência. Eles ainda seguem com mimos e fofuras (ainda bem). Vickylinda ainda ama dormir agarradinha, pula pra minha cama de madrugada, dorme com bonecas e bichinhos de pelúcia, se rende aos desenhos de quando era pequenina, brinca de panelinha e de vez em quando pede comida na boca (juro). Ainda assistimos desenho abraçadas, ela ainda dorme com cafuné deitada na minha perna no meio do restaurante e ela pede colo (imagina eu pegando no colo este bebê de 1,30m e 30kg?).

4- A gente consegue abusar deles: crianças servem para apagar as luzes da casa na hora de deitar, pegar um copo d´água, atender o interfone, pagar a pizza, levar a louça de vidro mesmo para a pia, etc.

5- As regras vão ficando mais elásticas.

Tudo bem que a gente acordou as 11 da manhã no domingo e não tomou café da manhã por que ninguém quis sair da cama e pediu comida no IFood por que decidimos passar o dia de camisola. Domingos estão aí pra gente não abrir a geladeira mesmo.

6- É mais fácil gameficar as regras.

Estamos em uma fase de cortar açúcar da nossa vida. Mas, como tudo na vida, eu não acredito em radicalizações. Deixei chegar no ponto de que a criança e eu estávamos consumindo doces todos os dias? Então vamos fazer o caminho de volta de maneira mais gentil.Semana um: doce dia sim e dia não. Semana dois: doce dia sim e dois dias não. E por aí vai. Estamos entrando na fase doce dia sim e quatro dias não e vamos continuar assim até que cheguemos em uma semana sem doces. As exceções foram pros dias de festa dos amigos que compensamos no dia seguinte. No dia que minha amiga e a filha foram comer uma pizza lá em casa, a gente não tinha sobremesa. Meu objetivo é que a gente não coma doces de segunda a sexta e só no final de semana e só uma vez ao dia sempre que der.

Vou atacar vício em eletrônicos da mesma maneira. E o YouTube.

7- Eles têm arroubos de ousadia nos desafios.

Eu me divirto (secretamente) com aquilo que ela escolhe me desafiar. Teve o dia em que ela falou um monte de palavrão na van da escola e a monitora me ligou. Chegou em casa ela tomou uma bronca, conversamos e ela ficou um dia sem Ipad.

Ou o dia que ela se aborreceu comigo (já te disse que Vickylinda tem um gênio que tira um santo do altar?), se fechou no quarto, escreveu um bilhete malcriado dizendo que não era para eu entrar no quarto dela, só no dia seguinte. Eu ri sozinha, ri muito alto. Mas respeitei a decisão dela. Na hora do almoço bati na porta e disse que o almoço dela estava na mesa. Ela pediu pra comer na mesinha do quarto. Eu levei tudo e não passei da porta. Ela tirou a mesa e levou pra cozinha sem eu pedir. Ela voltou pro quarto. Quando ela se acalmou, ou se entediou, foi no meu quarto, me deu beijo, disse que me amava e pediu desculpas. Eu aceitei e continuamos o dia normalmente.

8- Eles querem fazer coisas fofinhas pra gente, como café na cama. A cozinha fica uma bagunça. Mas ela adora levar café da manhã na cama com direito a bilhete e flor.

9- Eles viram companheiros.

Consigo companhia pra fazer programas que seriam chatos pra ela. Exemplos não faltam: ela vai comigo no supermercado; levo ela comigo em dias de massagem. Ela vai comigo pra aula de boxe. Somos só nós duas e eu não tenho alternativa. Em compensação espero pacientemente quando ela quer parar para ficar meia hora subindo em árvore na Lagoa. Ou jogamos twister e eu fico quebrada por motivos de que não temos mais idade. Ou jogamos Uno, Mico, Detetive, Banco Imobiliário em dias que eu estou pronta pra deitar mais cedo. Deixo bem claro que precisamos ser companheiras e isso significa aguentar fazer o que o outro precisa ou quer muito.

10- Eles fazem coisas estapafúrdias e você não tem outra coisa a fazer a não ser rir. Essa semana eu voltei da cozinha pra sala só para encontrar Vickylinda com o meu personal (um homão grande e alto) fazendo um pequeno concurso de quem conseguia rebolar até o chão melhor igual a Beyoncé. Quer dizer: Ludmila. O que eu podia fazer? Rir e ser a juíza.

 

 

 

 

 

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