Você ainda acredita na maternidade perfeita?

A maternidade perfeita não existe. Todo mundo sabe disso. Mas, por algum motivo, hordas de pais e mães inundam as redes sociais e seus ouvidos perpetuando essa que é uma das mentiras mais deslavadas da vida em família. Por onde olhamos, parece que todo mundo quer mostrar que o filho é perfeito, que sua vida é feliz, que a mãe apegada não sofre de exaustão ou solidão e que a maternidade é tão fácil quanto pegar uma bicicleta e passear no parque.

Maternidade Perfeita? Jura?

Para mim, não existe nada mais difícil do que ser mãe. Estou há quase 2000 dias da minha vida tentando correr atrás do prejuízo. E me perguntando diariamente onde eu estava com a cabeça quando deixei um homem me engravidar (muitos risos). Estoufazendo piada para não ficar um clima pesado aqui no post… Mas naqueles dias especialmente difíceis, secretamente me pergunto o que eu estaria fazendo se não tivesse parido a Victoria?

E, embora nós aqui no Mundo Ovo e mais tantas blogueiras da vida real escrevamos sobre essa desmistificação da maternidade perfeita, somos criticadas e insultadas por que a gente se atreve a dizer que tá de saco cheio de não dormir mais. Que não aguenta mais dar colo, ouvir 2000 vezes alguém te chamar de mãe, pegar 18 copos de água em um dia, brigar diariamente para as crianças escovarem os dentes, trocar 14 fraldas em um dia, amamentar até o bico do peito parecer que está pegando fogo.

Que já deu essa cabeça que não desliga das preocupações e neuroses com os filhos, o casamento que tá por um fio, a ginástica que foi abandonada, o cabelo que não para de cair, a depilação que está atrasada faz uns 4 meses, o fato de que já desistiu de usar camiseta, por que seu bebê, que mama por livre demanda resolveu mamar de hora em hora.

Você viu que eu dei 13 exemplos de como é horrível ser mãe sem nem tirar os dedos do teclado? Então posso enumerar uns 100 problemas. Talvez você não viva todos eles (caso contrário você não estaria viva pra ler essa história), mas dá pra contar tranquilamente nos dedos das duas mãos.

Ser mãe é lindo. Mas também é detestável.

Ser mãe é um superpoder incrível. Mas, se eu pudesse falar palavrão aqui no blog eu diria que ser mãe é uma m$#%*. Mas como eu não devo falar palavrão, digo simplesmente que ser mãe também pode ser implacável com a sua própria essência.

Outro dia estava em casa, sonhando acordada com as coisas que ainda queria fazer enquanto (semi) jovem. Veja bem, estou passando por uma ótima fase de renovação pessoal aos 42 anos. E enquanto eu fazia planos de mudar de casa, viajar, arrumar um (ou mais) homens lindos para me tirar do chão e fazer todos os tratamentos holísticos que eu pudesse inventar para me sentir sempre leve e equilibrada, que eu poderia me mudar pra Nova York e me reinventar…

Ops! Pé no freio. Você não pode fazer nada disso, Camila. Você tem uma filha de 5 anos, que precisa de rotina, estrutura, que precisa estar do lado da família, do lado do pai dela. Não dá pra você passar a mão na sua pequenina e sair ganhando o mundo só por que você passou um domingo sonhando com isso. E nessa hora o peso da maternidade caiu como uma pedrada no meu cocuruto.

A maternidade é única, especial e necessária. Mas ela também é uma prisão.

E por isso fiquei chocada com a repercussão negativa do caso da Juliana, de 25 anos, que rejeitou o desafio da maternidade e explicou, tim tim por tim tim, listando mil e um exemplos de por que ela detestava ser mãe, mesmo amando o seu filho. (Leia a história aqui). Será que só ela conseguiu a clareza de enxergar que podemos amar infinitamente e incondicionalmente nossos filhos e ainda assim detestar todo o turbilhão que a maternidade joga nas nossas costas desde que descobrimos o resultado positivo do teste de gravidez?

A patrulha da maternidade cor de rosa foi a primeira a tacar pedra na moça, como se ela revelar que ser mãe não é essa beleza toda, fosse ruir o castelo de cartas perpetuado por gerações e mais gerações de mães que dizem todos os dias que se você é mulher, automaticamente nasceu pro papel.

Particularmente, eu gosto de ser mãe. Ser mãe é demais. Mas ser mãe é muito difícil.

Tem dias que ser mãe é impossível. Você pode adorar seu filho e jamais trocar ele por nada nessa vida. Mas pode sim odiar ser mãe. Por que a gente tem o direito de querer ser mais do que mãe. Mas a maternidade, quando não se mistura com a nossa própria essência, tem a tendência de ser aquele rolo compressor que vai passando por cima de tudo até ficar tudo achatadinho no chão. E você não se acha mais.

Sim, tô sendo dramática. Indo de um extremo ao outro para dizer que tudo bem odiar ser mãe algumas vezes. Tudo bem amar o seu filho de uma forma tão radical que palavras não descrevem. Tudo bem ter vários filhos fofinhos e, de vez em quando, sonhar acordada com uma ilha deserta e o __________ (descreva aqui seu galã favorito) te despindo lentamente em águas mornas e transparentes.

Mas não vem jogar na minha (nossa) cara que você fica super feliz que o seu pequeno fez o favor de fazer aquele xixi comprido na sua cama, por cima da sua colcha recém saída da corda, do seu colchão novinho, justamente no dia que o forro tinha ido lavar. E que você, exausta, por que está amamentando um bebê sob demanda, simplesmente trocou o pijama do seu mais velho, tacou uma toalha por cima do xixi, deixou pra pensar no colchão no dia seguinte, puxou a turma pra dormir mais perto de você e reza pro seu mais novo ficar pelo menos umas duas horas sem acordar, pra dar tempo do seu peito se recuperar dos dentinhos afiados que estão apontando na sua tenra boquinha. Não dá pra ser feliz assim.

Mas ser mãe é especial. É demais. É perfeito. É um superpoder. Nascemos pra isso. Só que menos, né?

maternidade perfeita

 

++ LEIA TAMBÉM: Minha família não é perfeita! ++

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9 Comentários

  1. 23 de Fevereiro de 2016 at 13:23 — Responder

    Obrigada por me dizer tudo isso, Camila! Especialmente no dia de hoje (em que eu praticamente joguei meu filho no colo da professora e saí correndo do colégio!)

    • Camila
      3 de Março de 2016 at 12:58 — Responder

      Hahaha Talita, quem nunca?

  2. Jacqueline
    28 de Fevereiro de 2016 at 11:30 — Responder

    Nossa me sinto tão aliviada em ler isso, parece q eu sou a única dessa forma.

    • Camila
      3 de Março de 2016 at 12:58 — Responder

      Jacqueline, não é não. Toca aqui 0/

  3. Cintia
    29 de Fevereiro de 2016 at 4:18 — Responder

    Adorei! Sou nova por aqui, acabei de conhecer o blog e adorei tudo! Parabéns

    • Camila
      3 de Março de 2016 at 12:56 — Responder

      Oba Cintia, que bom! Bem-vinda! Beijocas

  4. 29 de Fevereiro de 2016 at 19:43 — Responder

    Menos, bem menos! rsrs Acho que todo mundo concorda que não existe maternidade perfeita, e mesmo assim muita gente cisma em dizer que existe sim e fazem tantos julgamentos! Complicado, né? Precisamos de mais compaixão!

    • Camila
      3 de Março de 2016 at 12:56 — Responder

      Você ficaria chocada com a quantidade de mães “perfeitas” que existem por aí. 🙂 beijocas

  5. 6 de Abril de 2016 at 12:51 — Responder

    sensacional, o seu texto e o dela…ainda não tinha lido e não sabia da repercussão, mas achei bem realista e nada romantico, e algumas pessoas não suportam isto…
    a internet e as redes sociais viraram plataforma para todo tipo de julgamento, e ai um texto como este é gatilho para uma discussão e repercussão sem fim…mas gostei do que ela escreveu ao final, desejando amor a quem concorda ou discorda…

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