Crianças na natureza: lá fora é tão legal quanto aqui dentro

Uma recente pesquisa da National Trust, organização britânica que atua na preservação e proteção de locais históricos e espaços acessíveis a toda a população, mostrou que a área em que as crianças de grandes cidades ocidentais têm permissão dos pais para andar sozinhas é hoje 90% menor do que nos anos 1970. Apontou também que pré-adolescentes e adolescentes desses locais passam aproximadamente metade das horas em que estão acordados em frente a uma tela (computador, smartphone ou a velha televisão).

Os motivos para isso são muitos. Pais preocupados com a exposição de seus filhos à violência e à ação de estranhos; praças e áreas comuns destruídas para dar lugar a construções e avenidas; aplicativos tecnológicos e programas televisivos superinteressantes. Com o passar dos anos, os ambientes fechados se tornaram um porto seguro e o “lá fora”, indesejável.

Crianças na natureza

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Mas vamos valorizar o contato com a natureza?

Eu já conheci crianças de cinco anos de idade que nunca haviam visto uma galinha ao vivo e em cores. Outras que achavam que as pinhas dos enfeites de Natal fossem sempre artificiais. E pais que achavam que tudo bem, que isso não fazia a mínima diferença. Só que sacrificar o contato com plantas, bichos, terra, água e tudo que a natureza oferece pode ter consequências brutais na saúde física e psicológica da criança e do adolescente.

Após dezenas de estudos feitos em todo o mundo ano após ano, já não é novidade que pessoas sedentárias de qualquer idade, que não se exponham minimamente ao sol, estão mais propensas à obesidade, ao raquitismo, à asma e a uma condição cardiorrespiratória precária.

Richard Louv, autor do livro “A Última Criança na Natureza”, também chegou, por meio de estudos, a um elo entre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e o excesso de horas passadas em ambientes fechados. Paralelamente, pesquisadores da Universidade de Illinois (EUA) alcançaram melhoras significativas na saúde mental de crianças com TDAH depois de convencer seus pais a expô-las mais à natureza.

A criatividade também é estimulada pela natureza

Em “The Ecology of Imagination in Childhood” (A ecologia da imaginação da infância), a escritora Edith Cobb analisou a vida de 300 gênios dos séculos 19 e 20 e encontrou um ponto em comum entre todos: contato intenso com animais e plantas entre os 5 e 12 anos de idade.

Mais um estudo sobre o assunto. A pesquisadora Nancy Wells, do Departamento de Design e Análise Ambiental da Universidade de Cornell (EUA), entrevistou 2 mil famílias. Ela concluiu que aquelas que têm mais proximidade e interação com a natureza têm crianças com hábitos de saúde melhores, mais criatividade e mais capacidade de lidar com estresse e adversidades.

Formas práticas de familiarizar as crianças com a natureza

Tudo isso não quer dizer que a partir de agora é melhor ignorar a segurança e soltar nossos filhos na selva. Não se trata de demonizar as atividades indoors e achar que só ficar com o pé na terra ouvindo o canto dos pássaros é bom.

Mas sim que devemos pensar um pouco em diminuir o tempo que eles passam fechados em atividades mil e estimular, além das saídas seguras, a vontade de prestar atenção ao que o mundo lá fora tem de estimulante e bonito. Este é um dos grandes desafios dos pais da nossa geração.

Algumas atividades podem ajudar muito nisso. Reuni algumas super simples e possíveis de fazer em espaços mínimos, que coleto desde os meus tempos de Magistério. Vou compartilhá-las com vocês!

Barquinho de papel

Mostre para a criança como ele flutua e como ele afunda caso seja empurrado para baixo. Ou seja, a relação da água com os objetos. O uso de folhas nesse jogo de flutua-afunda pode ajudar muito. Dá para fazer até na pia do banheiro! Ideal para crianças de 1 ano e meio de idade em diante.

Esculturas de terra/areia/argila/massinha

Em uma ida ao parque ou à praia, use a terra ou a areia do chão para construir castelos, moldar animais, fazer formas livres. Deixe a criança se sujar fazendo isso, para que ela não tenha “medo” do chão em que pisa. Se uma saída dessas estiver distante nos planos, comece em casa fazendo esse tipo de moldagem com argila ou massinha de modelar. Assim, quando o programa finalmente acontecer, seu filho saberá o que fazer com a terra ou com a areia. Funciona bem a partir dos dois anos de idade.

Jogar peteca

Mostra o relacionamento das penas com o ar, o que pode ser estendido para uma observação dos pássaros posteriormente. A partir dos 4 anos a criança pode já ter a coordenação necessária para o jogo.

Levar a criança a um viveiro de plantas

A maioria dos grandes parques tem áreas de preservação de plantas. Lá existem profissionais gabaritados prontos para tirar dúvidas dos visitantes sobre as espécies ali presentes. As crianças (e os pais) aprendem muito em um passeio desse.

Falar os nomes dos elementos da natureza para a criança

Em um simples passeio pela rua é possível fazer isso. Ao passar por uma praça com a criança, por exemplo, diminua o passo para dizer os nomes das árvores, dos pássaros, das flores. Se você não souber (ninguém é obrigado, né?), destaque o que conhecer. O que é uma folha, o que é uma flor, que um sabiá é diferente de uma pomba e assim por diante.

Visitar uma fazendinha urbana

Toda cidade grande tem pelo menos uma fazendinha urbana em que as crianças podem ver de perto e interagir com galinhas, patos, bodes, ovelhas, pôneis, cavalos e muitas outras espécies animais. Saber eles são estimula, inclusive, o respeito pelos animais. O passeio é válido e aproveitável para qualquer idade.

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1 Comment

  1. 22 de setembro de 2016 at 14:47 — Responder

    Realmente, você está certa. Precisamos tirar as crianças de dentro de casa e mostrar-lhes o mundo interessante que há lá fora.

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