Ainda precisa de TV a cabo em uma casa com crianças?

A televisão sempre ocupou um lugar de destaque no centro da sala e da vida das famílias. A posse do controle era alvo de uma disputa acirrada e não há relato de nenhuma criança dos anos 1980 que tenha sido capaz de trocar o canal durante a hora do jornal da noite ou dos jogos de futebol de domingo.

Algumas famílias organizavam sua vida de acordo com os horários de seus programas preferidos: o jantar era antes do Jornal Nacional, as crianças saíam correndo da escola para não perder o desenho favorito e o os programas noturnos eram marcados para depois da novela das 20h. Existiam poucos horários específicos para a programação infantil, geralmente de baixa qualidade, e no resto do dia as crianças assistiam o que estivesse passando, fosse apropriado ou não.

Os canais a cabo infantis foram um alento para as crianças que cresceram no cenário retratado acima e viraram mães nos anos 2000: seus filhos tinham à disposição 24 horas ininterruptas por dia de programação de qualidade para sua faixa etária – desenhos animados, programas educativos e boa música infantil.

Já estava tudo bem melhor, mas, para completar a mamata, as televisões a cabo ainda disponibilizaram um botão que permitia gravar seu programa favorito para ver a hora que o espectador quisesse. Caillou de noite? Tudo bem. Peppa Pig no domingo? Claro, por que não? Não era mais necessário ter aquela infinidade de DVDs nas prateleiras, se a programação não agradasse, a criança poderia trocar de canal, se não encontrasse nada, poderia recorrer às gravações.

Perfeito, certo? Bem, nem tanto, escrevo esse texto porque apesar de tudo isso estou prestes a cancelar minha TV a cabo. Se contassem isso para mim alguns anos atrás, eu não acreditaria – Mas como? Por quê? Lembra de como era na sua época? Não ficou melhor?

Pois é, mas os hábitos mudaram mais uma vez de maneira veloz de lá para cá e as crianças aprenderam a decidir exatamente o que elas querem assistir e quando. Meu filho se alterna já algum tempo entre Netflix e YouTube, com brevíssimas passadas pelos canais da TV. O que ele assiste depende exclusivamente de sua vontade. A televisão é dele; não é de um canal, não é de um estúdio, não é de um anunciante. É dele e ponto, e ele não está afim de fazer muitas concessões.

Às vezes levo um susto com os vídeos horrorosos que ele encontra no YouTube e que o deixam fascinado. São cenas de crianças tropeçando, gatos se assustando, brinquedos sendo abertos, músicas ou simplesmente um vídeo que mostra uma galinha ciscando por três minutos. A qualidade nem sempre é boa, o áudio pode falhar. Ele já assistiu coisas em português, espanhol e japonês. Ele assiste mil vezes a mesma coisa e separa alguns para mostrar para os amigos depois. Eles riem, riem, sem parar.

A Netflix é ótima, e tem sempre muitas opções para ele e para mim, por um preço acessível, disponível em qualquer lugar que eu estiver – e mesmo assim ele ainda quer mais, ele quer tudo: todas as temporadas de todos os desenhos e todos os filmes!

Vendo minha fatura da TV a cabo, me pergunto se ainda há necessidade de manter o serviço…

Eu não sinto falta há muito tempo, mas achava que não era possível abrir mão em uma casa com criança. Porém estou achando que a transição já foi feita por ele e por mim. Adiei para o mês que vem minha decisão, e corri aqui escrever a respeito para tentar entender se isso está acontecendo nas outras casas também e como vocês estão lidando. Me conta?

 Ruocaled