Desabafo: eu, a mãe ansiosa

Há dias durmo pensando na maternidade que não vivi. Explico. Ao meu redor pipocam grávidas e também mães de primeira viagem com seus recém-nascidos nos braços. Cenas calmas e plácidas como as de um ensaio sobre gravidez ou maternidade para uma revista, no jargão popular, “comercial de margarina” da maternidade. Só vejo sorrisos, muitos, postados diariamente no Facebook e no Instagram. Parece que elas nasceram para isso e eu não. Não tenho fotos lindas minhas com meu bebê logo na primeira semana de vida, nem na segunda ou terceira. Acho que as primeiras belas fotos são as do batizado, quando ele já tinha três meses. Lamento, enquanto olho para a babá eletrônica que mostra o Adam dormindo tranquilamente no quarto ao lado. Uma tristeza me aperta o coração e choro por tudo o que não consegui viver e desfrutar nesses quase cinco anos como mãe dele. Quanto de leveza eu poderia ter empregado aos nossos dias. Essa tal ansiedade materna…

A Camila sempre me disse para eu relaxar, para que assim pudesse aproveitar a vida com ele sem tantos medos, e acabar de uma vez por todas com uma lista de “e se” construídas a cada dia em minha mente. E se ele acordar? E se ele estiver com fome? E se ele chorar? E se ele cair? E se ele sentir minha falta? E se eu desligar essa babá eletrônica agora?

Em parte, acredito que não ter uma rede de pessoas que pudessem me dar uma força ou um tapinha nas costas e dizer que o que eu fazia era certo, que estava tudo bem… Não tive minha mãe para ajudar (mesmo atrapalhando) com conselhos que toda mãe dá ou um sacode daqueles que te faz pegar o caminho da roça e entender que não existe o perfeito e sim o possível.

Essa é a minha busca, a de uma maternidade possível, sem cobranças, sem rótulos de #menasmain ou de #supermãe. O Mundo Ovo acaba sendo um grande divã e hoje me deito para chorar, desabafar e buscar alternativas para ser uma boa mãe nesses tempos em que a maternidade é discutida e debatida e que qualquer passo em falso vira um belo de um tropeção.

Não sei quando a ansiedade começou a fazer parte da minha vida. Se foi por ter uma mãe controladora e cheia de medos, se é um traço da minha personalidade por conta do dia e hora em que nasci (acho que vou fazer meu mapa astral) ou se é um acúmulo das experiências vividas (e de outras que não vivi), a necessidade de estar no controle como se o fato de eu estar vigilante bastasse para que nada desse errado, nunca.

Esse “não dar errado nunca” me deixa mais cansada porque estou sempre assumindo ou supervisionando cada tarefa; o marido reclama, o filho reclama… Cada um tem um jeito próprio para realizar tarefas e mesmo que o resultado não seja lá muito igual ao meu, percebo que cada vez que eu me intrometo, meu filho pode perder um pouco daquilo que demoramos tanto a construir: confiança. Essa tal confiança que eu não construí (ou não permitiram que eu construísse) quando criança e adolescente e posso dizer sem medo de críticas, que eu só sei que a tenho na hora de fazer pra valer.

Já é uma grande vitória eu ter chegado até aqui, reconhecer cada uma das minhas falhas e encarar que preciso mudar. E acredite, eu já mudei muito. Meu marido também não me dá moleza e agradeço todos os puxões de orelha que tomo quando me coloco no seu caminho. Ele é o pai que ele pode e quer ser para o nosso filho e essa é uma relação apenas dos dois.

Tenho certeza que hoje sou uma mãe melhor, mas continuo fazendo o meu dever de casa, e se você identificou com o que eu escrevi aqui vão dicas básicas:

1) Você é a melhor mãe que o seu filho poderia ter!

2) O que você viveu ou não viveu quando criança não precisa se repetir com o seu filho. Navegue nas boas lembranças e crie novas.

3) Encontre o seu ritmo. Não adianta dar um passo maior do que as pernas e deixar o seu filho ir ao passeio da escola e ir junto para espionar.

4) Confie em você e no seu filho. A relação que vocês estão construindo é única, então pense sempre qual a mãe que você quer que ele se lembre.

5) Peça ajuda aos mais próximos para que eles possam, aos poucos e com carinho, apontar comportamentos seus que ainda são exagerados.

6) Não se culpe. A culpa não nos deixa seguir em frente e agir para mudar os fatos que nos desagradam.

7) Não desista. Seu filho vai crescer e novos desafios surgirão. Fortaleça-se já!

8) Não hesite em buscar ajuda médica. Eu fiz isso e acredito ter sido determinante para conseguir vencer diversos obstáculos.

9) Sei que é difícil, mas evite se comparar com aquela mãe super relax e descolada que você acompanha no Facebook. Todo mundo tem esqueletos escondidos no armário, até a mãe mais legal da pracinha.

10) O ditado é claro: “Deus protege as criancinhas, os bêbados e os loucos.”

 

Crédito da imagem em destaque: Shutterstock

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9 Comentários

  1. 8 de julho de 2015 at 16:51 — Responder

    Você ainda usa babá eletrônica???
    heheh
    Falando sério: temos que ter muito filtro ao olhar o facebook alheio… pode parecer a vida perfeita MAS também rolou um filtro do lado de lá ao escolher o que postar né?
    beijão
    Lele

    • Patricia
      9 de julho de 2015 at 15:24 — Responder

      Tenho que desapegar, mas ainda não consegui. Passos pequenos e permanentes 🙂

  2. Cristiane
    8 de julho de 2015 at 21:12 — Responder

    Esse texto me caiu como uma luva hoje, como eu tava precisando saber que não sou a única a sofrer tanto com culpa, arrependimentos, ansiedades…obrigada!

    • Patricia
      9 de julho de 2015 at 15:23 — Responder

      De mãos dadas Cristiane. Eu que agradeço o seu comentário, agora sei que não estou sozinha.

  3. Ellen
    11 de julho de 2015 at 15:54 — Responder

    Eu parei de ler textos sobre maternidade pq todos parecem impor algo que realmente esta fora da minha realidade, este li pq me idenrifiquei com o título e ao final acabei de identificando em cada vírgula. Que sonho seria que todos os rótulos que colocaram nas mães se dissipassem agora! Obrigada por nem permitir saber que não estou só.

    • Patricia
      15 de julho de 2015 at 15:11 — Responder

      Ellen,

      aqui você vai se sentir em casa porque somos todas mães da vida real 🙂 Não nos cabe julgar, apontar… escolhemos como missão acolher. Bem-vinda!

  4. Sindi
    13 de julho de 2015 at 21:20 — Responder

    Li seu texto e só pensava: tão eu….

    • Patricia
      15 de julho de 2015 at 15:09 — Responder

      Sindi,

      estamos juntas nessa … Já somos quase um clube!E eu que achava estar sozinha.

  5. Raquel
    8 de novembro de 2016 at 10:05 — Responder

    Caramba… super me identifiquei com seu texto, que encontrei ao pesquisar no Google “ansiedade na maternidade”.
    Sempre fui muito ansiosa, mas a maternidade está me paralisando. São tantos medos, tantas cobranças, tantos “e se… ?”. Me dá até falta de ar.
    Abraço e parabéns!

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