Não é difícil oferecer alimentos saudáveis para crianças

Começo esse texto dizendo que não sou uma nutricionista xiita como muitos gostam de rotular as pessoas que decidiram cortar radicalmente alguns alimentos de suas vidas. E não sendo nutricionista xiita, não posso dizer que seja uma mãe xiita também. Meu filho come batata frita e chocolate e aprecia cada segundo desse deleite, às vezes, após a natação, tomamos um picolé. Ele sabe o que é comida de verdade e o que é comida de “de vez em quando”. Não é uma tarefa fácil vencer a mídia e a influência de amigos e por vezes até mesmo o cardápio da escola, mas não é impossível conseguir oferecer uma alimentação saudável para crianças e construir um bom relacionamento delas com o mundo em que vivemos.

Escrevo esse texto meio que como um desabafo e uma forma de tentar entender qual o real motivo que leva pais de quase 1/3 (32,3%) das crianças brasileiras com menos de dois anos de idade a oferecer sucos artificiais e refrigerantes para os seus filhos. Com certeza esse é o percentual que deve ter ficado com pena da filha da Bela Gil na história da lancheira. Quando foi que comer de forma saudável virou piada e comida processada virou algo “legal”?! O meu filho é o coitadinho que não come doce, nem chupa bala ou toma achocolatado???

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgada no mês passado (21/08/15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra uma realidade que poucos conseguem (ou preferem) entender. É extremamente preocupante que 60,8% das crianças brasileiras com menos de dois anos de idade consumam produtos como biscoitos, bolachas e bolos de forma regular. O açúcar é algo que só deveria entrar na vida das crianças após essa idade – isso se o açúcar fosse o maior dos problemas, pois esses biscoitos recheados são cheios de gordura hidrogenada e outros componentes nada saudáveis em nenhuma idade.

Muitos dos produtos industrializados destinados ao consumo infantil são extremamente processados e com doses excessivas de açúcares (de vários tipos, disfarçados sob nomes como: maltodextrina, glucose, dextrose …) e são os maiores responsáveis pelo aumento da obesidade e de doenças que surgem dessa condição – hipertensão, colesterol alto e até mesmo diabetes. Muitas crianças já usam medicamentos para combater esses males que antes só afetavam adultos.

Sobre o consumo de refrigerante vale dizer e reforçar que nenhum deles é alimento, fornecendo zero nutrientes e sendo bastante prejudiciais à formação de ossos e dentes dos nossos pequenos. Cabe ressaltar que a cafeína vicia e estudo mostram que o consumo em crianças provoca agitação e prejudica o sono, tão importante para o crescimento e assimilação de aprendizado. Sobre os sucos artificiais, coloco os links sobre o que já escrevi sobre assunto aqui e aqui.

Será falta de informação, falta de opção, de grana para comprar frutas e vegetais? Acho que não. Essa mesma pesquisa mostra que as regiões do Brasil com maior renda são as que mais consomem os produtos industrializados.

 

O que podemos fazer?

Diversos estudos mostram que as preferências alimentares adquiridas na primeira infância são de grande impacto na formação dos seus hábitos alimentares no futuro. Mas como agir se uma grande parcela da nossa população adulta (+ 18 anos de idade) 56,9% sofrem com o excesso de peso? Muitos pais oferecem aos filhos aquilo que consomem e se uma parcela tão grande assim está com problemas de saúde, qual o futuro que a criança brasileira terá? “Está havendo uma substituição importante do padrão de alimentação das crianças, que já se reflete na população adulta e que precisa ser revertida”, disse o ministro da Saúde Arthur Chioro.

O foco precisa ser na infância. É de pequeno que se aprende também a comer direito e evitar um futuro nada saudável. Iniciativas como a do Jamie Oliver na Inglaterra e nos Estados Unidos de tornar os lanches das escolas mais saudáveis, foram de grande ajuda no convencimento das personalidades públicas em entender que é preciso mudar desde cedo. Que uma população saudável rende mais e custa menos aos cofres públicos (que é onde o bolso aperta).

Precisa existir maior rigidez com relação aos industrializados. O que hoje existe com relação ao sódio e a gordura trans nos produtos processados, precisa ser ainda mais criterioso e ampliado para outros produtos, especialmente os de consumo infantil.

Precisamos fazer nossa parte como pais, pois é nosso dever escolher o que servir aos nossos filhos. Eles não ganham dinheiro e nem vão ao mercado sozinhos, muito menos preparam suas próprias refeições. Existe urgência em se construir e incorporar hábitos mais saudáveis.

Ofereça e consuma diariamente alimentos frescos como legumes, verduras, frutas, ovos e carnes magras. A combinação “arroz e feijão” é perfeita para as crianças.

Consulte: Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar para crianças menores de 2 anos e o Guia alimentar para a população brasileira desenvolvido com o intuito de promover a saúde e a boa alimentação, combatendo a desnutrição e prevenindo a obesidade e outras doenças crônicas, como diabetes, AVC, infarto e câncer.

Espero que iniciativas privadas deixem de ser a única realidade e passem a ser um espelho para que políticas públicas mais abrangentes e efetivas possam ser implementadas, afinal é para isso que a pesquisa do IBGE é realizada, para identificar os problemas da população e buscar soluções nas suas diversas esferas.

 

 

NOTA: A pesquisa foi feita em 64 mil domicílios em 1.600 municípios de todo o País entre agosto de 2013 e fevereiro de 2014. É o mais completo inquérito de saúde do Brasil, com dados sobre informações do domicílio, equipe de saúde da família, pessoas com deficiências, saúde dos indivíduos com 60 anos e mais, crianças com menos de 2 anos, acidentes e violência, estilos de vida, doenças crônicas, saúde da mulher, atendimento pré-natal, saúde bucal e atendimento médico. Essas informações servem de base para que o Ministério da Saúde possa traçar suas políticas públicas para os próximos anos.

 

 

Crédito da imagem em destaque via Shutterstock

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