Usar ou não os sabonetes antibacterianos

Os sabonetes antibacterianos foram desenvolvidos para minimizar e/ou evitar infecções bacterianas em ambiente hospitalar, onde uma rígida assepsia (limpeza) se faz extremamente necessária. Assim nasceu o triclosan, o triclocarban e outras substâncias pesticidas criadas para tornar o ambiente cirúrgico livre de contaminações.

Quando se começou a trazer esse – teórico – benefício para dentro de nossas casas, propagandeando que a saúde da nossa família sairia ganhando, algumas sociedades médicas começaram a realizar estudos para verificar se o que a indústria dizia era verdade.

Na maioria dos estudos guiados pelas indústrias há a comparação do número de bactérias mortas pelo sabonete antibacteriano versus o sabonete comum de todo o dia. Fica evidente que o sabão antibacteriano elimina mais micróbios que o sabão comum, porém, o que os cientistas são categóricos em afirmar, é que não existe provas de que essa diferença seja um real benefício para a nossa saúde.

 

Mas qual é o problema afinal?

A sociedade médica está bastante preocupada com a possibilidade de que tanta propaganda “recomendando” o uso desses antibacterianos possa vir a acelerar o surgimento de superbactérias.

Colleen Rogers, Ph.D. microbiologista da FDA, e sua equipe suspeitam que os riscos associados ao uso diário de sabonetes antibacterianos podem superar os benefícios a longo prazo. Em seu anúncio, a FDA mostrou grande preocupação que o uso de “certos ingredientes” presentes nos sabonetes podem contribuir para a resistência bacteriana aos antibióticos, com efeitos incertos e inesperados.

No ano passado, pesquisadores da Johns Hopkins divulgaram resultado de aumento do risco de alergias e do sistema imunológico em crianças quando se utilizava o triclosan.

Um outro estudo mais recente mostra que o uso de sabonetes antibacterianos pode ajudar o crescimento de bactérias resistentes aos antibióticos, bem como alterar níveis hormonais, especialmente em mulheres e crianças.

Há pouco mais de um mês, um novo estudo foi apresentado no 248th National Meeting & Exposition of the American Chemical Society evidenciando que o uso prolongado do triclosan está relacionado a prematuridade, defeitos congênitos e problemas no sistema reprodutivo. O mesmo estudo comprova que essas substância podem passar para o feto, uma vez que são detectadas na urina da gestante e em metade das amostras de células sanguíneas do cordão umbilical.

Triclosan – uma ameaça?

Triclosan é um ingrediente adicionado em muitos produtos, com o objetivo de reduzir ou prevenir a contaminação bacteriana. Sua ação se dá inibindo a produção de um ácido gorduroso que é essencial para as células bacterianasPodemos encontrar o triclosan em roupas, utensílios de cozinha, móveis e até em brinquedos. Ele também pode ser adicionado aos sabonetes antibacterianos (objeto desse texto), pastas de dentes e alguns cosméticos.

Diante de tanto alarde da sociedade médica,  a EPA (Agência de Proteção Ambiental Americana) anunciou que conduziria nova revisão de segurança do uso de triclosan. O governo canadense declarou que o composto é tóxico para o meio ambiente, iniciando uma ainda leve proibição de produtos com esse ativo vendidos no Canadá.

 

Onde mora o problema?

O problema é que a bactéria presente no nosso organismo e que sobrevive à “introdução” do triclosan pode sofrer mutação e criar uma nova variante, essa, resistente aos efeitos do antimicrobiano utilizado. 

Como temos por hábito lavar as mãos várias vezes por dia, mandamos os pequenos lavarem as mãos um outro X número de vezes, nossa exposição ao produto em questão é bem maior.

Algumas empresas, como a Johnson & Johnson e Procter & Gamble, já anunciaram revisão nos produtos que contêm essas substâncias.

Em dezembro do ano passado, a FDA, órgão do governo dos Estados Unidos que supervisiona o mercado de produtos ligados à alimentação e à saúde, determinou que os fabricantes desses sabões terão até 2016 para provar que seus produtos oferecem algum benefício real aos consumidores – do contrário, terão de parar de prometer maravilhas ou retirar os produtos do mercado.

 

Em conversa com a Dra. Kerstin Taniguchi Abbage, diretora do Departamento de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Pediatria ficou claro que existem 4 grandes problemas no uso contínuo desse tipo de produto, contra-indicando seu uso em ambiente doméstico:

1) Alteração do pH da pele – Esses sabonetes são extremamente alcalinos, alterando o manto ácido que reveste nossa pele. Quando se fala em pele de crianças, o dano pode ser ainda maior. Com o desgaste do manto ácido, a pele fica suscetível ao ressecamento e pequenas rachaduras.

2) Desequilíbrio da ecologia normal da pele – Os sabonetes agem “limpando” as bactérias da pele, sem fazer distinção entre as que já habitam a nossa pele, deixando assim a pele isenta de bactérias, boas e ruins. Quanto mais se usa o sabonete antibacteriano, menos defesa o nosso organismo terá.

3) Potencial alergênico – Quanto mais contato, e quão precoce esse contato se dá, há predisposição ao aparecimento de alergia. O sistema imunológico reconhece a substância como diferente, iniciando o processo alérgico.

4) Desenvolvimento de resistência bacteriana e geração das superbactérias – As bactérias sempre buscam uma maneira de resistir a um novo medicamento e isso já é sabido pela sociedade médica, mas quando se têm muito contato com essa substância (no caso o triclosan), o desenvolvimento de resistência ocorre muito mais rápido. Outro dado importante é o nascimento de cada vez mais superbactérias, e se você tem dúvidas de como elas surgem, basta você não terminar o tratamento inteiro de antibióticos que seu médico prescreveu, algumas bactérias sobreviverão e serão mais resistentes aos antibióticos.

 

 

Como ter segurança na hora da compra?

A lista de produtos que contenham substâncias bactericidas tem aumentado nos últimos anos. A conduta mais simples é evitar qualquer sabão ou produto de limpeza e uso contínuo identificado como “antibacteriano”. Não subestime o uso do velho e bom sabonete comum, ele pode não trazer escrito “antibacteriano” no rótulo, mas aliado aos 20 segundos recomendados para a lavagem das mãos, mata uma boa quantidade de germes.

 

 

Crédito da imagem em destaque: Veronica

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