Um mês sem ela… A mãe!

Sempre me considerei um homem moderno. Sou pai presente, daqueles que disputa com a mãe o direito de dividir a criação seu filho desde o nascimento. Então não vi problema algum quando, um dia, minha esposa chegou em casa com a notícia que ficaria um mês em São Paulo por conta do seu trabalho. Naquele momento várias coisas me passaram pela cabeça: será ótimo para o trabalho dela, para nosso relacionamento, para o Gabriel, nosso filho com oito anos, que ficaria sem os mimos da mãe… Tudo! Menos que teria alguma dificuldade com ele. Afinal, sabia todas as rotinas e, claro, nos amávamos! Acabei descobrindo da pior maneira, que não era bem assim…

No primeiro dia fomos até o aeroporto levar a mãe. Pura diversão! Mal sabíamos o que nos aguardava… As duas primeiras semanas foram terríveis! A rotina diária foi para o espaço e esquecíamos quase tudo! Cobrava dele tarefas que não estava acostumado. Eu mesmo estava perdido! A empregada me informava que o lanche do Gabriel havia acabado, e eu cobrava dela se havia alguma roupa da escola limpa.

Juliana ligava:
– Deu o remédio da homeopatia?
– Claro! (menti várias vezes)
– Como foi o judô?
– Como assim? Foi como sempre!
– E a aula de piano?
– Não foi!
– Porque não foi?
– Não foi porque não foi!…

E pra que tanto dever de casa?! Pesquisar em revistas, recortar e colar?! Depois de muitas brigas era “toma meu filho, já fiz!”. E tome bilhete da professora reclamando que o dever não tinha sido feito, que ele havia esquecido de levar algo, etc.

A noite era pior! Gabriel estava mais agitado e ansioso que o de costume. Passei acreditar que crianças são sádicas e gostam de ver os pais sofrerem! Tantas perguntas, birras, brigas… Uma noite depois de uma discussão travamos! Ficamos nos olhando calados durante alguns segundos… Havíamos chegado no limite! Sem resposta apenas apontei para a porta do seu quarto.

Vou confessar! Eu, homem moderno, pai participativo, cidadão do século XXI, tive durante alguns segundos um daqueles pensamentos mais machistas e reacionários possíveis: “isso não é para mim que sou Homem!”. Recobrada a consciência, nesta mesma noite tive o insight! Estava errado! Tentava substituir a mãe! Isso é impossível, não porque ela faz melhor, mas porque são relações entre pessoas diferentes! Deveria procurar achar a minha receita de pai!

Depois do calvário, num ato de fé e desespero, sentei com o Gabriel e conversei sério. Se não nos ajudássemos, não iríamos conseguir sobreviver aquele mês. Estipulamos juntos novas regras e alteramos algumas rotinas. Da terceira semana em diante a relação mudou! Não sei se por medo ou pena de mim, Gabriel começou a fazer o combinado. Já não esquecia tudo, os deveres estavam em dia e a nova rotina começou a dar certo. A última semana nos reservaria uma boa surpresa. Um bilhete da professora elogiando o Gabriel por estar mais independente e responsável. A vitória enfim!

Combinamos que no último dia de trabalho da mãe, iríamos encontrar com ela em São Paulo. Chegamos e fomos todos comemorar num jantar. Depois, ao chegar no hotel naquela noite, desabei na cama! Com febre…

 

Nota Mundo Ovo: esse post faz mais sentido se você ler o outro lado da moeda. Olha só o que a Juliana tem pra dizer sobre o mesmo mês longe, aqui.

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3 Comentários

  1. Sonia Maria Martins Nobrega
    12 de Fevereiro de 2014 at 12:39 — Responder

    E a relação pai e filho se solidificou. Filho criando independência e pai buscando as suas próprias alternativas sem substituição de mãe. Parabéns Nando! Que experiência legal!

  2. Katia Moura
    13 de Fevereiro de 2014 at 2:54 — Responder

    Esse momento “Um mês sem ela”,foi na minha modesta opinião, essencial para á orientação nas relações entre pais e filhos, e também, nas relações entre marido e mulher,afinal, ambos são importantes no papel de pai e mãe. Não acredito que cuidar de filho “é coisa de mulher”, acho que cada um tem sua função na educação e na formação da criança, ambos se complementam, não é fácil ser pai sozinho, tão pouco ser mãe se desdobrando o tempo todo para dar conta das várias tarefas envolvidas na criação e na educação de uma criança.Esse momento que vocês vivenciaram, foi fundamental e ,certamente, fez muito bem para todos os envolvidos no processo, mostrou o quão trabalhoso é dar conta da rotina de um filho sozinho, trouxe mais independência para sua criança e mais confiança por parte de sua esposa em te deixar no controle por algum tempo. Quando existe a participação dos dois, fica mais fácil; a mãe passa a ter mais tempo para ela, o filho ganha maturidade, e o marido muda a sua visão, em relação a dura rotina diária da esposa.O mais importante é dar ao filho á oportunidade em perceber o quanto ele é amado e todo o cuidado que seus pais têm com ele, e ainda, dar lhe a chance em aprender que em todas ás relações, cada um tem obrigações a cumprir. Digo isso com muita propriedade, afinal, também sou mãe, e de dois meninos, um tem a idade de seu filhote, e o outro fez 12 anos recentemente. Vivo enlouquecida, me virando como posso para dar conta da minha e também da rotina deles, mal posso contar com a ajuda de meu marido, não porque ele não queira estar ao meu lado, ajudando e tudo mais, mas porque ele trabalha muito e acaba ficando esgotado e sem paciência,resultado; não sobra muito tempo e nem vontade para lidar com a rotina diária das crianças. Adorei o seu relato, Fique certo que muitas famílias se identificarão com tudo o que você nos contou. Parabéns para todos vocês, que essa experiência os aproxime cada vez mais e lhes proporcione bem estar e muitos momentos de alegria, digo isso porque li a versão de sua esposa também. Um beijo, não desanime, o trabalho é duro mas, o resultado é gratificante.Beijocas!!

  3. Camila
    8 de agosto de 2014 at 12:45 — Responder

    Muito legal o post, mas o que quero mesmo saber é que escola é essa em que a professora manda recadinhos com freqüência?! Pode dizer? 🙂

    Feliz dis doa pais!

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