Como não se tornar uma mãe neurótica

Assim que uma mulher se descobre grávida, ela corre para os livros e pra Internet. Afinal, ser uma boa mãe é saber de tudo muito, de forma que você precise passar no vestibular da maternidade com cinco estrelinhas douradas, até que você esteja apta a olhar todas as situações possíveis por vários ângulos. O coração já está palpitando? Pois é, o meu também, e eu não acredito nem um pouco nisso.

Acredite em mim: virar mãe não precisa ser esse desespero de ser perfeita e eternamente preocupada. Meu analista já me disse que, no mínimo, somos todos neuróticos, mas eu acho que dá pra gente aliviar um pouco a maluquice que colocamos no nosso lombo. Claro que você quer e precisa se preparar, sobretudo se você tem zero experiência com bebês e crianças, mas você também não precisa cair na armadilha da maternidade cor-de-rosa e, pode sim, viver uma vida de mãe responsável, mas sem pânico.

Se você procura uma maternidade sem neurose ou quer pelo menos manter as suas inseguranças sob controle, pode começar seguindo nossas dicas. 

  • Não vire a louca do consumo só porque engravidou. Sim, você vai querer oferecer o melhor pro seu filho, inclusive e principalmente se você sofreu muitas restrições na sua infância. A verdade é que consumir gera uma ansiedade danada e existem pais que passam 40 semanas fazendo contas e gastando, fazendo compras e trocando de carro, de casa e investindo num estilo de vida que, muitas vezes, está além das posses da família. Não vire essa pessoa. Não pense que você precisa investir centenas de reais em um aparelho que diz o significado do choro do seu bebê.  [Leia aqui sobre as coisas que parecem necessárias, mas quase todo mundo acha inútil, leia aqui a nossa lista de enxoval básica. Leia aqui sobre as vantagens de se tornar uma pessoa menos consumista.]

 

  • Ainda na maternidade, ou logo que vocês chegarem em casa, a família e os amigos vão querer pegar seu recém-nascido no colo. Você pode estar pensando em decretar quarentena na sua casa, mas não faça isso. Não precisa bancar a ermitã. Recém-nascidos inspiram cuidados, mas não são de vidro. As regrinhas são simples, na verdade: pra pegar no bebê, não pode estar doente e nem resfriado, mãos e braços limpos (água, sabão, álcool 70…), as roupas dos fumantes não podem ter cheiro de cigarro e entregue uma fraldinha ou cueiro para o bebê não entrar em contato com roupas dos adultos. Pensa que delícia alguém estar ali ninando e acarinhando o seu bebezinho enquanto você vai ao banheiro, toma um banho ou senta no sofá com os pés pra cima (e tenta não cochilar)?!

 

  • Ainda tentando te demover da ideia de quarentena, não se esqueça dos seus amigos. Você acha que se juntará a uma seita onde todos têm filhos, mas você quer realmente esquecer a sua vida pregressa? Tudo bem você dar um (looooongo) tempo das baladas. É verdade que a rotina vai ficar doidaça por um tempo e você, que chegava às 6 da manhã das festas, vai passar a sair de casa às 6 da manhã pra levar seu pequenino pra tomar sol nas dobrinhas. De repente você pode se encontrar com a galera na padaria da esquina prum pingado e um pão na chapa antes deles caírem na cama e você curtir a pracinha?!

 

  • E já que estamos falando de não se esquecer das pessoas, lembre-se de que você tem um marido e ele vai se ressentir da falta de atenção. Sim, é você quem está em casa, você que virou fonte de nutrição para um bebê que só faz chorar, dormir e mamar. Mas eles não podem evitar. Você era cheirosa e era só dele. Nosso primeiro instinto é fazer ninho só pra cuidar do nosso pequenino. E o marido vira o sujeito que tá ali só pra “te ajudar”. É das neuroses mais difíceis de combater, se é que dá. Mas inclui ele no ninho. Conversa com ele sobre o que você está sentindo, sua vontade de nunca mais fazer sexo na vida, sua vontade de colocar um fone de ouvido pra não ouvir mais bebê chorar e todos os sentimentos controversos que você está experimentando de amor, cansaço, raiva e medo. Coloca o marido no seu time, ao invés de tratar ele como o paspalho que precisa te ajudar.

 

  • Aprenda a morder a língua. Não existe neurose mais chata do que ser a pessoa que se acha sempre certa e não tem jogo de cintura pra mudar de ideia. Imprevistos acontecem, seu filho não vai ser aquele que você idealizou e as coisas não vão ser perfeitas, simplesmente porque isso não existe. Você acha que vai chegar em casa e seu bebê não vai ser chorão porque vai ficar pregado em você o dia todo no sling. Acha também que ele não vai ter cólica porque você já tem sua dieta pregada na porta da geladeira. Pode acontecer tudo do jeito que você imaginou e os livros disseram que aconteceria. Mas também pode ser tudo diferente. E tudo bem, você não vai ficar doida e vai se adaptar, porque já leu esse post.

 

  • Confie no seu taco. Todo mundo dá pitaco: sua irmã, a sogra, sua mãe. Claro que você vai ouvir todas as pessoas e até se preparar para mudar o curso do barco quando alguma sugestão for bacana e alinhada com seu pensamento. Mas não fique igual uma barata tonta fazendo tudo o que as pessoas te mandarem fazer, porque claramente não vai dar certo. As pessoas têm formas diferentes de criar os filhos e tudo bem. Você é uma pessoa inteligente, não quer mesmo ser neurótica então não vai dar uma de doida e criar um quarto todo montessoriano se você não sabe nem o que significa isso.

 

  • Dito isso, meu próximo conselho pode ser controverso, mas atenção com os grupos de maternidade. Assim que o Beta HCG deu positivo, você corre pro Facebook e se inscreve em dez grupos diferentes e eles passam a ser sua tábua de salvação para qualquer assunto: de estria a remédios para evitar queda de cabelos e o que fazer quando o bebê de 15 dias não quer dormir. Veja bem, trocar experiências é das coisas mais positivas da vida, mas você não conhece a realidade das suas companheiras de grupo. Ninguém tem medo de indicar qualquer medicamento e todo mundo tem uma opinião radical sobre tudo. Pergunte, esteja preparada para ouvir “de um tudo”, mas converse com seu obstetra, com o pediatra, com a nutricionista e com suas amigas. Não é que as mães de grupo estejam todas erradas. De forma alguma. Eu sou uma dessas mães que estão em grupos, participo com perguntas e falo das minhas vivências, e você está aqui lendo o que eu tenho a dizer. Mas a neurose coletiva às vezes acontece e a pancadaria virtual também.

 

  • E principalmente: não sofra por antecipação. Seu filho nem nasceu e você já está preocupada com a creche. O pirralho ainda está engatinhando e você já pirou na compra de calçados. Ele mal saiu da maternidade e você já está planejando a festa de um ano com cem pessoas e 10 personagens, porque você tem certeza que ele é obcecado pela Galinha. Ele teve uma febrinha e você já está histérica achando que pode ser pneumonia. CALMA. Viva o presente. Seja organizada, seja responsável, mas seja racional.

 

Querida leitora gravidíssima, se você está lendo esse longo post é porque não quer ostentar o título de Mãe Neurótica do Ano e isso  já é meio caminho andado pra você ser uma mãe mais ponderada, racional e confiante. Boa sorte!

 

Imagem: Jenni C

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7 Comentários

  1. Cristiane
    10 de Março de 2014 at 17:39 — Responder

    Como isso é difícil…rsrs Mas eu juro que estou tentando!

    • Camila
      10 de Março de 2014 at 17:58 — Responder

      Cris, a gente resolve qualquer neurose (materna ou não), vivendo um dia de cada vez e pensando muito antes de ter pensamentos obsessivos e cometer maluquices em nome da insegurança. Conte comigo nessa luta!

  2. Talita M.V.
    11 de Março de 2014 at 20:37 — Responder

    Muito bom.

  3. carolina
    9 de Abril de 2014 at 13:11 — Responder

    Oi Cqmilla! Adorei o post!! Estou gravida e realmente tenho panico de ser uma mae neurotica!! Obrigada pelas dicas. Acabo de descobrir o teu blog e vou tentar ler tudo detenidamente. Um beijo de uma futura mamae brasileira na Espanga!

  4. Julianna
    17 de junho de 2014 at 18:22 — Responder

    Gente, eu sou neurótica assumida… rs. O post é muito bacana, acho que todas as ponderações feitas devem ser refletidas; mas na minha situação, tenho que fazer um esforço descomunal pra não deixar que o medo e a falta de controle da situação me tirem do prumo… Estou grávida de 25 semanas atualmente.Há dois anos, tive uma gravidez absolutamente saudável, e ainda assim, sem mais nem menos, numa ultra som de rotina (a última antes do parto)tive a noticia de que minha bebê de quase 9 meses havia morrido. E eu não senti absolutamente nada, apenas contrações irregulares indolores, que se confundiam com os movimentos fetais… Primeiro baque. Periodo muito dificil, até hoje. Qual motivo do óbito? Não sei. Ninguem foi capaz de me responder. E o pior: me deram uma explicação esdruxula,pouquissimo convincente, pra não dizer que me falaram isso, pra ter o que me dizer… Sou pediatra, trabalhei em UTI neonatal, e informação não me falta… A explicação não era compatível com o que aconteceu… Nem a conduta: Uma cesariana de primeiro filho morto, só porque o meu psicológico estava abalado…Numa situação dessas, a gente deixa de ser médica e passa a ser um trapo de pessoa… Decidir o que?! Impossivel. Aguardei dois anos, pra tentar engravidar de novo, por segurança, pois tinha um corte desnescessario no meu utero e queria minimizar os riscos. Finalmente o tempo chegou.Um mes pras férias. Farei outro bebê nelas, chegou a hora!!!! Mais uma vez, o destino me sacaneando: do nada meu ovário torceu, retirei um dos ovários em uma cirurgia de emergência, e fiquei só com um… Bem, já descrente de ter filhos, Deus foi piedoso e mesmo assim engravidei sem esperar nas sonhadas férias. E com 10 semanas, quase perdi meu bebê, com um sangramento horroroso que durou quase três meses. Anemia, repouso absoluto, hipoglicemia… O menos dos problemas foi a prisão de ventre, que embora comum nas gestantes, me fazia sangrar mais, por causa do esforço.Durante as complicações que tive nesta gravidez, recebi um diagnostico errado de trombofilia na minha cidade (no interior) e vim pra capital, onde tudo se esclareceu e finalmente estou sendo muito bem acompanhada. Cheguei a comprar um sonar, pra ouvir diariamente o coração do meu bebe. Presto atenção em cada detalhe do meu corpo. Não dá pra ser diferente, depois de tudo isso.Enfim, tento evitar a neurose do cuidado do exagero, mas é muito dificil, ainda mais sendo pediatra e tendo conhecimento tecnico de tudo o que pode ocorrer… Nunca mais consegui trabalhar em UTI neo novamente. E análise não funciona. Até porque é mais do que neurose, é achar que ninguém vai ter mais interesse de proteger sua cria como você, e saber que independente se o médico é caro ou barato, dificil está hoje em dia, um que você possa confiar. Bem, essa é minha história. E minha batalha pra desencanar e deixar a vida seguir. Até porque, mesmo tendo vivido tudo isso, a vida está seguindo, forte e mexe pra caramba.E vai atender pelo nome de Francisco!!!! 🙂

    • Patricia
      17 de junho de 2014 at 22:29 — Responder

      Que venha o Francisco forte e feliz. Tenho certeza de que vai passar, a dor vai diminuir e a vida vai seguir mais leve.

      Boa hora.

  5. Fany
    4 de Fevereiro de 2015 at 0:23 — Responder

    E quando vc ja leu horrores sobre gravidez, parto, educacao infantil, ja escolheu escola, decoracao de quarto, modelo de baba eletronica… E nem gravida esta ainda?
    Sinto medo de mim-mãe rsrsrsrs. Mas vamo que vamo!

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