Quanto temos para dar?

É possível se dar 100% aos filhos? Será que é isso que aproxima uma mãe da perfeição? Coloco mãe pois é fácil identificar que são as que, de modo geral, têm mais dificuldades em impor limites na relação com os filhos. O grupo materno que consegue um meio-termo é sem dúvida uma minoria, as outras giram em torno das polaridades: as que se importam muito mais com suas carreiras e/ou maridos e/ou elas mesmas do que com os filhos, e as que falaremos aqui: aquelas que praticamente se anulam para dar conta de todas as necessidades dos filhos e da família. Para as primeiras, esse texto poderá ser usado como justificativa e desculpa para continuar fazendo o que estão fazendo, no entanto ele foi escrito para o segundo grupo.

Não podemos ignorar o fato de que nos primeiros meses de vida, os bebês realmente necessitam de muita atenção e dedicação. Entretanto, eles suportam cada dia que passa, um pouco mais de distanciamento da mãe: tanto físico quanto emocional. No início são capazes de suportar esperar, apenas por alguns segundos, até que sua necessidade seja satisfeita. Com 2 à 3 anos, por exemplo, geralmente já conseguem ficar separados por alguns dias. Esse aumento gradativo é o que permite que outros interesses possam entrar na vida da criança: escola, amiguinhos, etc.

Volta e meia surgem posts de mães desesperadas que fazem praticamente confissões de que, apesar de todos os seus esforços e dedicação, percebem que seus filhos viram pequenos tiranos que não as reconhecem como alguém que também precisa de carinho e consideração. Vocês devem estar pensando: “não faz sentido algum uma criança que teve uma mãe que abre mão de tudo e cuida exclusivamente de seu bebê, não desenvolver essa capacidade para com a mãe ou os outros.” No entanto, colocando uma lente de aumento, é possível enxergar a situação de outro modo.

Existem muitas mães que abdicam de seus trabalhos, de tempo para si e para os amigos durante toda infância dos filhos. Entretanto conto nos dedos de uma mão as que conheço que se sentem realizadas e satisfeitas assim. As outras, fazem um esforço descomunal, achando que estão fazendo o melhor para seus filhos e não reparam nos detalhes. Sempre que abre-se mão demais, cobra-se algo em troca. Isso acontece entre casais e com os filhos. É fundamental saber o quanto temos para dar e quando temos que recarregar, caso contrário, a paciência escorre pelo ralo e de repente são poucos os momentos prazerosos.

É claro que nem sempre é possível fazer o que se quer na hora que quer, mas muitas vezes a única coisa que impede uma mãe de dar um jeito de arrumar tempo para si é a culpa de não se dedicar 100% ao filho, como se isso a classificasse como uma péssima mãe. Não querer passar 24 horas com os filhos é bastante saudável. O ser humano é extremamente plural e consegue se interessar por várias áreas ao mesmo tempo. Isso não implica em absoluto que o amor pelo filho não é imenso!!! Passar algumas horas no cabelereiro, numa viagem ou no trabalho, muitas vezes é o suficiente para tornar o tempo que sobra junto de extrema qualidade, já que criou-se espaço para a saudade, o reconhecimento do valor do outro na própria vida etc.

A relação mãe-filho é normalmente a mais forte que existe. A vontade de participar de todos os momentos da vida deles é comum, mas não é possível e nem saudável estar presente o tempo inteiro pois isso dificulta o crescimento, a separação inevitável e a relação do infante com o mundo. Ter cautela para que os cuidados excessivos não se tornem invasivos, também faz parte. Tudo na vida deve ser comedido, inclusive presença de mãe.

 

Imagem: Shauna Hawkins

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4 Comentários

  1. 26 de setembro de 2013 at 11:40 — Responder

    Uma ótima abordagem para um velho, e complexo, problema! Sem dúvida alguma vou repensar alguns conceitos já arraigados. Obrigada pelo conselho…

  2. Bruna
    26 de setembro de 2013 at 13:59 — Responder

    Muito bom ler esse post Roberta. Hoje mesmo vim para o trabalho chorando. Minha filha está com 9 meses e começou a me agarrar na hora de deixá-la na escola (na hora que vou buscá-la ela agarra a berçarista pq quer ficar). Faz 2 semanas que voltei a trabalhar período integral (fiquei 4 meses meio período). Mas nossa.. a culpa é de matar! Vontade de largar tudo e ficar com ela 100% do tempo. Mas e se eu largar, será que não vou me arrepender? Provavelmente sim! Nunca pensei que fosse tão difícil ser mãe! rsrs Bjo

    • Roberta
      26 de setembro de 2013 at 22:17 — Responder

      Pois é Bruna, realmente é a tarefa mais difícil que existe. Com o tempo, esse distanciamento vai ficando mais fácil para as duas. Se você passar firmeza pra ela na hora da separação, aos poucos ela também ficará confiante. Espero que melhore logo! Bjs

  3. Carol
    27 de setembro de 2013 at 11:53 — Responder

    Roberta, sensacional o texto! Tão logo terminou minha licença a maternidade, matriculei minha filha no berçário. Deu um baita trabalho pq eu me sentia culpada e pq ela chorou bastante, mas isso foi muito bom para a nossa relação. Consegui me organizar e trabalhar meio período e ela frequentava o berçário meio período!
    No início deste ano nos mudamos de SP para uma cidade menor no interior do Paraná. Mesmo sendo uma mudança super planejada, um dos planos era que eu não trabalhasse inicialmente – para que tudo entrasse nos eixos, porém isso não fez com que ela não frequentasse a escola, pelo contrário. Vai para escola e bem feliz! Claro que alguns dias, ainda, dá um chorinho, mas passa e fica muito bem!
    Acho que esse distanciamente que nós, mães damos e precisamos é fundamental ara um bom relacionamento com nossos filhos e marido tb!

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