Dicas da minha irmã para as futuras mães de múltiplos

Lembro que o obstetra assistente, marido da minha obstetra me visitou no quarto da maternidade para me dar alta e ele me disse algo mais ou menos assim: Camila, não é difícil. A primeira semana é a mais sinistra de todas. Você ainda quer dormir, ainda não se acostumou com a rotina. O primeiro mês você já sabe que não vai dormir mesmo, já opera no automático. Se você sobreviver ao primeiro mês, parabéns! Você venceu!

Lá em casa, com uma só, foi difícil, mas não foi impossível e nem a pior coisa do mundo. Eu realmente acostumei a não dormir mesmo e bola pra frente. Acho que eu também já esqueci parte do perrengue. A natureza é sábia. A gente aprende a minimizar a loucura, senão nem pensa em ter outro.

Mas eu lembro que mais sinistro ainda foi com a minha irmã. Ela era consideravelmente mais jovem do que eu quando ela teve as gêmeas. E com menos estrutura financeira que permitisse um séquito cuidando de tudo. Claro que nós, a família, sempre estivemos perto para ampará-la no que ela precisasse. E quando o casal precisava dormir, minha mãe colocava todo mundo dentro da casa dela e enquanto eles tiravam 16 horas de sono, a gente se revezava cuidando das lindezas.

Hoje, quase 10 anos se passaram. E a Mariana sobreviveu, as meninas são espetaculares e ela namora bastante a Victoria e diz, bem longe do resto da família, que se ela tivesse mais grana e mais coragem, que ela queria mais um bebê (a gente esquece, não te disse?). E eu provoquei um pouco a Mary, pra ela contar como foi a experiência dela logo nos primeiros meses e o que ela diria para as futuras mães de múltiplos.

 

“Eu vou falar um pouco mais do que só o primeiro mês, pois me lembro que dormi muito nos primeiros dias porque fui para casa com uma das meninas e a outra ficou no hospital para engordar um pouquinho. Apesar de terem nascido com 38 semanas completas, o tamanho era de 36 semanas. Luisa ficou comigo no hospital por quatro dias, mas a Julia ficou mais uma semaninha para pegar peso e aprender a sugar com mais força. Os primeiros dias em casa com um bebê foi muito tranquilo, pois a Luisa dormia muito e quase não dava trabalho. Mamava de três em três horas e muitas vezes precisava acordá-la para não passar do horário da mamada. Depois de uma semana chegou a  Julia e aí sim o bicho pegou. Apesar de eu ter conseguido botar as duas juntas na rotina, elas mamavam no mesmo horário, dormiam na mesma hora, tomavam banho juntas, etc… eu tinha zero tempo para mim pois o pouco que sobrava ou eu estava tirando leite para armazenar ou estava organizando o nosso pequeno cafofo. Sim, morávamos em um micro apartamento de 65 m2, mas ele poderia a qualquer momento se transformar num caos.

A rotina era assim: acordávamos cedinho, trocava as fraldas, elas mamavam e depois íamos passear. As manhãs eram dedicadas ao passeio para tomarem sol e eu também conseguia ver rua e gente. Por volta de 10 horas banho, mamada e soninho. Enquanto elas dormiam a empregada lavava a roupa (na mão) e eu organizava as mamadeiras, chupetas, esterilizava tudo e depois ia para meu curto repouso, pois eu tinha que parar. Eu tentava almoçar antes delas acordarem, mas nem sempre conseguia, porque quando elas tiravam esse soninho mais prolongado eu também aproveitava para cochilar. Quando elas acordavam começava tudo de novo. Troca de fraldas, mamada, arrotar, etc… E assim passava o dia. Se tivesse calor dava para passear de carrinho a tarde, mas com o tempo feio eu não arredava o pé de casa com medo das viroses, afinal elas eram muito pequenininhas!

Tive sorte no primeiro mês. Elas dormiam muito, até mais do que deveriam. Então pude organizar bem essa questão do horário delas. Se cada uma tivesse sua hora ia ser complicado, pois nos intervalos ou tempo livre que me sobravam, enquanto elas estavam dormindo, eu procurava sentar com as pernas para o alto e “fingir” que estava descansando. Uns 15 minutinhos que eu conseguisse fazer isso meu leite vinha que era uma beleza, era um chafariz! Aí tirava uns 30 ou 40 ml para armazenar, afinal elas mamavam na mesma hora, lembram? Enquanto uma tava no peito a outra tava na chuquinha, aí na próxima mamada trocava. E assim conseguimos manter essa rotina por um bom tempo.

Nos primeiros seis meses eu tive a ajuda de uma antiga empregada da mamãe que foi uma benção na minha vida. Ela praticamente criou a gente e me conhecia bem. Sabia que eu era, e ainda sou, chata com a casa, com a limpeza, com a arrumação e procurava me agradar ao máximo. Eu reclamava do tamanho da casa e ela dizia: “Mary, se fosse grande você ia ter que botar mais uma pessoa aqui para ajudar a manter a sua organização. Você não gosta de ninguém mexendo nas suas coisas…” Aí chegava visita e eu reclamava que a sala era pequena. Aí ela me consolava mais uma vez: “Mary, já pensou se viesse um monte de gente ao mesmo tempo? Iam passar o dia aqui e você ia ter que amamentar na frente de todo mundo, aguentar o falatório e as meninas iam ficar agitadas e a noite não ia ser essa maravilha”.

Gêmeos dá trabalho? Dá sim e muito. Mas com paciência, dedicação e organização as coisas fluíram e no começo nem foi tão sofrido.

Quando elas completaram três meses eu já estava craque com essa coisa do horário regrado, da organização da casa, da ordenha, dos banhos de sol, etc…. Mas como nem tudo são flores…  Elas cresceram e pegaram peso rapidamente e a partir dessa idade a fome começou a apertar e a vida virou um inferno. Era uma choradeira sem fim. Até descobrirmos o leite adequado para complementar as mamadas foi duro. Testamos de tudo que existia no mercado, até pararmos no antigo Nan AR. A essa altura eu estava estressada e fora de controle e o leite do meu peito direito salgou. Fiquei amamentando somente no peito esquerdo por mais um mês, mas quando elas completaram quatro meses eu não aguentava mais o caos. Já não tinha mais quase leite e não tinha cabimento eu submeter as duas, que nasceram com tamanho de prematuro, a dividir um peito com leite bom, o outro com leite salgado e eu passava 24 horas do dia virada e com elas berrando porque obviamente o meu leite não sustentava mais. Conversei com o pediatra por telefone e marcamos consulta. Quando ele me viu levou um susto, eu estava cadavérica, com olheiras negras e chorava o tempo todo. “Mariana, chega de sacrifício. Deixa secar o peito naturalmente, aumenta essa mamadeira mais 30 ml e bota as mamadas de três em três horas durante o dia e, a noite, a partir de 18 horas, de duas em duas horas, assim elas vão ficar satisfeitas e vão dormir a noite pra você poder descansar.”

Dito e feito! Elas dormiam às dez horas da noite e acordavam às seis da manhã. Assim consegui ter aquela rotina inicial de volta, conseguia jantar com meu marido, conversava com a empregada sobre o que faríamos no dia seguinte e ainda arrumava um tempinho para falar no telefone.

Hoje 10 anos se passaram. Muita coisa mudou. Eu conheci outras pessoas, mães jovens, mães mais velhas, famílias com gêmeos, trigêmeos e até quadrigêmeos. Amadureci, errei, acertei e a maior lição que pude tirar de tudo isso é que ter uma rotina com bebês é pré-requisito básico para você não surtar de vez. Contar com o apoio da família é essencial para você se sentir segura e pedir colo quando precisar. E por fim, ter um pediatra que te apoie, te entenda e seja seu amigo é para fechar essa jornada da maternidade com chave de ouro!”

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1 Comment

  1. Daniele
    24 de Janeiro de 2013 at 14:31 — Responder

    Mary e Mila amei as dicas… mesmo longe Amo vcs!!!! Bjs

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