Crise de identidade em gêmeos

Quando engravidei das minhas filhas gêmeas, senti de pertinho a curiosidade das pessoas em torno do assunto filhos gêmeos.  Foi inseminação? Meninas ou meninos? São da mesma placenta? Será que você vai chegar aos nove meses de gestação? Depois que elas nasceram as perguntas continuaram e ainda vinham outras: como elas são? Nossa, elas são idênticas! Elas vestem a mesma roupa? Como elas se comportam?

Muitas vezes estamos caminhando em algum lugar e pessoas nos param para fazer a pergunta: nossa, elas são gêmeas? O fato é que, ainda hoje com a quantidade de múltiplos que existe pelo mundo, muita gente tem enorme curiosidade sobre o assunto e querem se inteirar de todos os detalhes e nuances.

Minhas filhas, Julia e Luisa, são gêmeas idênticas e estão com 10 anos. Passaram por uma fase em que estavam muito diferentes, com grande diferença de peso e altura, mas há algum tempo estão muito parecidas, o que torna difícil identificá-las em fotos, quando estão de costas, quando passam de relance, mas principalmente em fotos para documentos. Toda vez que passamos por alguma alfândega, precisamos mostrá-las separadas, depois juntas e eles ficam um tempão se certificando quem é quem.

Elas não gostam de ser confundidas mas se divertem com as confusões, principalmente no início do ano escolar. As professoras ficam doidas nas primeiras semanas pois com o uniforme e o cabelo preso em rabo de cavalo até eu sou capaz de confundi-las. Apesar de estudarem em turmas separadas, (o momento da separação foi intenso e muito sofrido, e assunto para outro post), se encontram com frequência no recreio, no banheiro ou quando esquecem algum material e vão buscar ajuda na sala da outra. Quando uma vai pra enfermaria com febre ou algum machucado, a irmã é tirada de aula imediatamente para acolher a acidentada. Certa vez, Julia parou no hospital com gastroenterite, ela tinha em torno de quatro anos, a irmã ficou em casa com o pai, desolada. Julia dormiu por algumas horas no hospital com os medicamentos. Quando abriu os olhos, a primeira pergunta foi: “Mamãe, cadê a Luisa?”

Quando começaram a fazer coisas sozinhas, entraram em crise. Entravam em banheiros diferentes para se arrumar, mas quando saiam estavam com o mesmo penteado ou com o mesmo tipo de roupa. Uma reclamava com a outra: “Você pode trocar o seu elástico?” “Por que eu? Por que você não troca se está tão incomodada?” Também tem o problema da cor rosa. Luisa sempre foi dona de tudo o que fosse rosa. O resultado de tanta briga é que a Julia tomou pavor de rosa e desdenha da cor, achando tudo que é rosa, ridículo.

Desde pequenas, se olham no espelho e tentam achar diferenças. Só descobriram o formato do rosto, um mais comprido e o outro mais redondo. Nessa época ficaram curiosas com o nascimento e pediram para ver fotos desde a maternidade. Esses álbuns rodaram o mundo! Queriam porque queriam mostrar para as pessoas que elas eram diferentes. Mas não tinha jeito, poucas concordavam e elas voltavam para casa contando histórias.

A relação dos irmãos gêmeos é muito curiosa. Eles são grudados e são capazes de excluir outros irmãos. Também se unem contra os pais e contra o mundo, se for preciso. Não se importam de ir a festas e não conhecerem ninguém, pois a dupla se basta. Passamos por muitas situações, em diversas fases da vidinha delas. Ainda bebês, elas se olhavam no espelho e achavam que era a irmã. O mesmo acontecia quando viam fotos de si mesmas. Durante um tempinho, Luisa também achava que era Julia. E pra elas, irmãos eram sempre gêmeos. Quando fomos explicar que os tios eram meus irmãos, deu um nó na cabeça delas e foram necessárias horas de conversa.

Mas, apesar dessa busca pela própria identidade, ainda gostam de dormir na mesma cama e estão sempre juntas.Elas querem mostrar para o mundo que são pessoas diferentes, com gostos diferentes e principalmente personalidades diferentes, mas tudo isso vai por água abaixo quando em algum momento do dia, não só quando precisam se olhar no espelho, mas quando não conseguem se desvencilhar tamanha a identificação.

 

Imagem: Yana Lyandres

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6 Comentários

  1. Renata
    4 de dezembro de 2013 at 9:10 — Responder

    Adorei o post! Parabéns!! Sou gêmea univitelina e sei bem o que é isso… ser confundida, querer ser diferente, e se orgulhar de ser igual… ter o gênio completamente diferente em uma pessoa tão igual a você. Sou advogada, e ela dentista. Mas, quando já casadas e combinávamos de sair, quando nos encontrávamos estávamos com a roupa parecida… hilário mesmo!!

  2. Rachel
    4 de dezembro de 2013 at 9:13 — Responder

    Que texto fofo. Tenho uma irmã que não é gêmea, são 2,5 anos de diferença, mas depois da adolescência ficamos MUITO parecidas. Me identifiquei com várias situações q vc descreveu – pegar uma foto e ‘adivinha quem é?!’ – e percebi que nossa relação é como de gêmeas, até respondemos sim qdo perguntam… É um luxo na vida ter uma relação dessa. Beijo!

  3. 4 de dezembro de 2013 at 11:03 — Responder

    Adorei! Tenho gemeas univitelinas de 1a9meses e é tão bom saber um pouco mais de como pode ser mais pra frente. Fiquei curiosíssima sobre a adaptação em salas diferentes (foi bom separar? Por que separou? Elas gostam?) – as minhas começam na escola agora e tivemos essa duvida. Aguardando a continuação do post! 😉

    • Mariana MPM
      Mariana Mattos
      9 de dezembro de 2013 at 15:56 — Responder

      Olá Carolina, no período de creche elas ficaram o tempo todo juntas. Quando chegou o 1º ano do ensino fundamental elas foram para uma escola grande e lá eles separam gêmeos. Aliás, todas as escolas que visitei eu recebia essa informação logo no começo das reuniões. A adaptação em turmas separadas na escola foi terrível. Passaram um bom tempo tristes e sempre procuravam algum meio de se encontrar no corredor, ou no banheiro e até mesmo na enfermaria. Uma época elas trocavam material só para ter o prazer de ir na sala da outra para trocar. Enfim, foi uma fase difícil e demorada mas passou. No começo eu nao gostei da separação mas hoje sou obrigada a admitir que foi uma boa pois uma delas era muito tímida e vivia “nas costas” da outra. Quando se viu sozinha foi obrigada a tomar conta de si. Isso a fez crescer e amadurecer. Hoje elas estão no 5º ano e mais independentes, com amigas e amigos diferentes e com a personalidade mais aflorada, uma mais durona, a outra mais doce… Mas a cumplicidade está cada dia mais forte e sinto que serão grudadas para sempre! Abraços!

  4. Daniela
    4 de dezembro de 2013 at 12:32 — Responder

    Pois é Mariana ter gêmeos é uma bençåo mesmo, os meus já tem 17 anos , um casal, ficaram pela primeira vez separados no ano passado quando fizeram intercâmbio, mas compraram coisas iguais, computador, etc Eles estudam juntos, na mesma sala desde a quarta série e sabe que foi a melhor coisa ? Até hoje eles tem a mesma turma de amigos e estão sempre juntos , sempre os mesmos programas, brigam como todos os irmãos mas são cúmplices em tudo !!! Amei o seu texto !!

    • Mariana MPM
      Mariana Mattos
      9 de dezembro de 2013 at 16:06 — Responder

      Opa Daniela, depois me dê a dica desse intercâmbio pois tenho o maior interesse! Elas também brigam de vez em quando, mas daqui a pouco estão se abraçando, coisa de irmãos mesmo. O grupo de amigos é o mesmo pois são todos da escola, mas percebo que elas tem preferências. Quando tem os passeios da escola, cada uma vai com as amigas/os que tem mais afinidade. Passeio de fim de semana então elas nem querem se encontrar, mas na volta passam alguns dias dormindo na mesma cama para matar a saudade! É de fato uma relação muito especial… Um beijo!

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