O que as embalagens coloridas dos alimentos infantis escondem?

Tenho um filho de quase 3 anos, recentemente mudamos ele de escola e uma das minhas grandes preocupações era o fato de que ele faria duas refeições por lá, almoço e lanche. Agora, confesso que estou achando ótimo! Facilita a minha vida e diminui significativamente as chances de alguma novidade (tipo porcaritos) da lancheira do amigo ir parar na barriga do meu pequeno.

Organizar a rotina da casa e decidir o cardápio das refeições são tarefas cansativas e de certa forma feitas de maneira automática. Entendo que precisamos ser práticas, mas é justamente essa a brecha que muitas indústrias encontram para oferecer um novo produto ou serviço que prometem resolver o seu problema como mágica. Porém, algumas soluções podem ser verdadeiros lobos em pele de cordeiro, principalmente quando o assunto é alimentação infantil.

Sempre que vou ao supermercado me espanto com o número de marcas e produtos que fazem uso de personagens de desenhos animados para vender biscoitos, iogurtes e chocolates. Experimente prestar atenção nisso também. Nem sempre um produto feito para crianças atenderá às necessidades nutricionais dessas crianças. Compramos o “enriquecido com vitaminas e minerais” acreditando se tratar de um produto ainda mais saudável, mas “essa riqueza” pode vir sob a forma de açúcares, gorduras e sódio em quantidades muito acima das recomendadas para a faixa etária.

img biscoitos

 

Há alguns anos, o Idec realizou uma pesquisa qualitativa em algumas marcas de salgadinhos e de bolos prontos que havia no mercado com apelo ao público infantil. No quesito açúcar, todos os bolinhos apresentavam níveis de açúcar muito acima do recomendado. Em relação ao sódio, das 15 amostras de salgadinhos analisadas, 13 pesam a mão na hora de colocar o sal em sua composição. A quantidade de gordura saturada medida então é capaz de provocar arrepios na mãe mais desencanada. Alguns salgadinhos, quando oferecidos na quantidade de 100g, já são o suficiente para estourar a cota diária recomendada desse tipo de gordura.

 

A festa dos excessos

Perdi um pouco de paciência com os produtos da Turma da Mônica pois é quase impossível encontrar um produto que se salve. Um pacote com 85 g de Nissin Miojo Lámen Turma da Mônica oferece quase 2 gramas de sal, 16g de gorduras e dessas, 7,4 g são de gordura saturada. O apelo “fonte de vitaminas B1, B2, B3 e B6” se perdem nesse contexto. Na embalagem, as referências nutricionais são para adultos, então a porção do miojo que representa 19% do total de energia que um adultos deve consumir num dia aumenta para quase 26% quando adequamos à necessidade de uma criança, público consumidor alvo.

O biscoito Passatempo é um outro exemplo de produto que peca pelo excesso. Baixo teor de fibra, muita gordura, açúcares e sódio. A porção de 5 biscoitos oferece 10% da energia que seu filho deve consumir todo o dia, 15% do carboidrato diário e 115 gramas de açúcar purinho e apenas 3% de fibras. Recomenda-se que o total de calorias diária fornecida pelas gorduras saturadas seja menor do que 10%, 5 biscoitos já somam 6%.

 

Excesso de sódio

Tenha em mente que 200mg de sódio para 50g de produto é uma ótima relação. Buscando esses valores, é triste ver que boa parte dos itens analisados na pesquisa do Idec ultrapassam muito essa quantidade. O snack salgadinho da marca Yokitos sabor queijo contém 190 mg em apenas 25g de produto. Se você acha que é só nos produtos salgados que encontramos excesso de sódio, se enganou, 25g de Sucrilhos Kelloggs oferece 147mg de sódio.

 

Excesso de gordura

De acordo com a classificação da Anvisa, um alimento já é considerado rico em gorduras quando apresenta 5g em 100g do produto. Biscoitos e bolinhos são os principais vilões nesse caso. Os bolinhos Ana Maria, por exemplo, que fazem parte do lanche de gerações, é um bolo cheio de gordura e sódio.

Cuidado com as gorduras do tipo trans! Para a Anvisa, um alimento não é considerado saudável se contiver mais que 0,5g de gorduras trans em 100g de produto. Esse tipo de gordura eleva os níveis de colesterol ruim e diminui os níveis de colesterol bom.

 

Desde 2005, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que há um aumento na comercialização de alimentos não saudáveis para a população infantil, e vê isso como um dos fatores que contribuiu para o aumento dos níveis de obesidade e sobrepeso. Diante disso, você pode se perguntar como é possível que toda esses excessos ainda existam. A verdade é que as empresas se apoiam no argumento de estarem cumprindo a norma da Anvisa de número 359/2003, que recomenda que os dados nutricionais diários para indivíduos acima de 36 meses sejam baseados em informações de duas mil calorias, que é o mesmo parâmetro utilizado para adultos com 70kg.

Abaixo coloco a tabela de Recomendações Nutricionais para crianças de 3 a 8 anos, ela será uma ferramenta muito útil sempre que você tiver alguma dúvida se determinado produto é ou não bom para a saúde do seu filho.

tabelaRDA_crianças

O que precisamos prestar atenção:

  • Leia os rótulos, sempre.
  • Por lei, a lista de ingredientes descrita na embalagem deve estar em ordem decrescente, ou seja, o primeiro ingrediente é aquele que está em maior quantidade no produto e o último, em menor quantidade.
  • No rótulo tem de constar a quantidade de carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans, sódio e do valor energético.
  • O fato de conter o aviso 0% de gordura trans na embalagem ou informar que o salgadinho é assado e não frito, não confere uma etiqueta de saudável.
  • Nem sempre é possível confiar na tabelas de nutrientes impressas no verso dos rótulos dos produtos. Em 14 dos 30 produtos pesquisados pelo Idec, alguns nutrientes ultrapassaram a tolerância de 20% a mais dos dados indicados no rótulo (adequação permitida pela Anvisa na Resolução 360/03) .
  • Os produtos deveriam conter as informações nutricionais e valores de referência para crianças e não para adultos, o que não acontece.
  • Cuidado com os alimentos trangênicos. Observe se há um triângulo amarelo com a letra T impressa; esse é o sinal indicativo de que aquele produto utilizou insumo.

 

 

Crédito de imagem: Le Fabuleux Destin d’Amélie

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