Superando dificuldades na amamentação

Os benefícios do aleitamento materno são indiscutíveis, mas amamentar nem sempre é uma tarefa fácil. Para mim, pelo menos, não foi. Não poderia desconfiar, vendo aquelas fotos lindas das campanhas de aleitamento materno, que às vezes é necessária uma dose diária de sacrifício para conseguir posar sem fazer careta durante uma mamada. A amamentação para mim foi um processo difícil e extenuante, superado graças a muita determinação e vontade. Eu queria desesperadamente amamentar, e não fosse tão importante para mim, com certeza teria desistido no primeiro mês.

Como costumo brincar, ser mãe é a arte de morder a própria língua. Tinha planejado: parto normal, aleitamento materno exclusivo até 1 ano e uma vida sem chupetas. Aconteceu: uma cesárea, menos tempo de amamentação e alguns meses de chupeta.

Se durante a gravidez ficamos alguns centímetros mais altas usando o salto alto de nossas convicções teóricas, os três primeiros meses após o nascimento do bebê são tempos de pés descalços no chão. E é bom que seja assim, pois significa que você entende e respeita que seu filho é uma outra pessoa, não uma simples extensão sua, programado de acordo com os seus desejos e vontades.

O meu filho nasceu grande, com quase 4,300kg, e, portanto, muito voraz. Já saí da maternidade com o bico do seio um pouco machucado. Eu queria muito amamentar e não passava pela minha cabeça que isso não iria acontecer.

Meu leite não demorou a descer e ele não teve nenhuma dificuldade para aprender a mamar. Porém, alguns dias depois, comecei a sentir muita dor. Meus mamilos racharam e, com os curtos intervalos entre uma mamada e outra, não havia tempo para a cicatrização. Usei a pomada Lansinoh, que trazia um certo alívio, mas não remediava a dor que eu sentia. O momento que era para ser de amor e serenidade, como as fotos lindas que eu via por aí, se transformou em um momento de tensão. Ele chorava de fome e eu começava a chorar junto.

Uma tarde, olhei para ele enquanto mamava e vi escorrer um filete de sangue da boquinha dele. Não consegui nem falar. A sorte que meu marido estava do lado e, ao perceber meu espanto, falou: “Calma, não é nada com ele. Seu peito é que está sangrando”.

Eu não cogitava a possibilidade de pular uma mamada e dar uma mamadeira do meu próprio leite. Tinha medo que ele não quisesse mais voltar para o peito depois.

Chamei uma enfermeira especializada em amamentação para vir na minha casa. Ela me orientou para a pega ficar correta. Explicou como fazer para evitar que o bebê abocanhasse apenas o mamilo, como colocar delicadamente um dedinho no canto da boca do bebê para não machucar quando eu precisasse tirar ele do peito. Outra dica preciosa foi incorporar o uso diário da bomba para tirar leite, mesmo nos momentos em que eu não iria armazená-lo.  Às vezes, meu peito ficava tão cheio de leite que ficava difícil do bebê pegar da maneira correta. Era então necessário tirar um pouquinho de leite, o suficiente apenas para amolecer o peito e facilitar a pega. Passei essa dica adiante várias vezes. Ela ajudou a vida de muitas amigas, mesmo daquelas que não tiveram problemas sérios de amamentação.

A enfermeira voltaria ainda outras vezes na minha casa. Notei, porém, que eu estava precisando mais do apoio e da companhia dela, do que de informações técnicas. Ela disse que eu deveria ir a um hospital público perto da minha casa na parte da manhã, onde um grupo de mães recebia orientação e apoio de médicos e enfermeiras. Esse contato com outras mães que passavam pelo mesmo problema foi fundamental para que eu conseguisse persistir com a amamentação. Todo o dia de manhã eu ia lá com o meu filho no colo, às vezes apenas para sentar e dar de mamar naquele lugar.

Foram três semanas de dor. Muito tempo. Não sei como não desisti. Depois que o sofrimento passou, era muito prático e prazeroso amamentar. Foram meses de tranquilidade e amor.

Estava tudo correndo bem até que eu acordei uma noite tremendo, ardendo de febre. Uma mancha enorme vermelha se estendia na parte inferior do seio esquerdo, que estava todo empedrado. Era mastite. Liguei para o obstetra e comecei a tomar antibiótico. Mesmo assim, continuei amamentando. A enfermeira voltou para minha casa e novamente me orientou para que eu conseguisse reverter a mastite. E deu certo. Mas durante esse tempo, o leite saía em menor quantidade. E por causa disso, meu filho não queria mais o peito esquerdo, se recusava a mamar. Eu insistia sempre, mas ele não pegava.

Voltei ao hospital e eles me ensinaram a fazer relactação. Tirava meu leite com a bomba e armazenava. Quando meu filho ia mamar no peito esquerdo, colocava o leite em um copinho plástico e usava uma sonda bem fininha como uma espécie de canudo. Uma extremidade ficava no recipiente e a outra eu enfiava delicadamente no canto da boca dele, para que quando mamasse, a quantidade de leite parecesse maior. Foram algumas semanas insistindo, mas ele acabou abandonando o peito esquerdo de vez e o leite praticamente secou.

Continuei mais algumas semanas amamentando apenas com o peito direito. Mas, além do problema estético (um peito estava ficando muito maior do que o outro), os intervalos de amamentação estavam diminuindo ao invés de aumentar, e ele voltou a acordar de 3 em 3 horas, às vezes menos. Ele tinha sete meses e decidi que era hora do desmame. Não queria mais passar por outra situação de estresse, não seria bom para mim nem para ele. Não foi uma decisão fácil, mas foi o que consegui fazer.

O apoio da família e conversar com outras mães que estão passando pela mesma situação foram muito importantes. Por isso, se esse for o seu caso, participe de fóruns, de grupos de mães, ligue para pessoas que passaram pela mesma situação (podem me mandar um e-mail!). Compartilhar experiências é reconfortante e ajuda na prática.

 

crédito imagem:   © Raphael Goetter 

caldos para a comida do bebê
Postagem anterior
Cozinhando com mais sabor
Próxima postagem
Guerreiros sobre rodas – Capacetes para pequenos ciclistas

8 Comentários

  1. Rosângela Cruz
    28 de Maio de 2012 at 13:06 — Responder

    Como é difícil ser mãe né?
    Eu passei por duas experiências, na primeira meu filho mamou muito, tive muito leite…. apesar de marinheira de primeira viagem e sempre ter aqueles pensamentos… será que está mamando direito? Está sendo suficiente? As visitas ao pediatra sempre me consolavam com um excelente ganho de peso. Aí veio minha segunda filha…. tempos muito difíceis… por um problema que meu primeiro filho teve ao nascer… meu organismo e principalmente minha cabeça resolveram trabalhar contra mim. Minha filha não mamava, dizem que menina mama menos, dormia horas sem reclamar e eu em frangalhos, pois me desencadeou uma crise onde eu não conseguia dormir mais de 20 min por dia… tentava e tentava e nada dela pegar o peito direito, não me lembro de quase nenhum dia onde não tenha que ter dado complemento… me sentia péssima, culpada… milhões de coisas passam pela sua cabeça…. má mãe…e por aí vai até que com 2 meses eu que quase não tive leite desisti. Na verdade, hoje analisando foi a melhor solução… porque me sentia mal por ela não mamar… me sentia mal com mil coisas . Sempre vai haver a discussão de que mães que não amamentam seus filhos são “displicentes ” , na verdade cada uma sabe da sua realidade e o bem estar de minha filha, que hoje é uma linda menina foram determinantes na minha escolha. Lógico que amaria ter amamentado como foi do primeiro, mas não me arrependo da escolha que fiz!

  2. Michelle Cavalcante
    29 de Maio de 2012 at 17:05 — Responder

    Achei este relato o máximo e até chorei… Pq TUDO o que aconteceu com vc, aconteceu comigo e eu não enxerguei dessa mesma forma poética, com a qual vc enxergou…

    Talvez por influência de algumas xiitas eu achava que tudo isso deveria acontecer (como se fizesse parte do projeto) e portanto, eu não podia ser “frouxa” de reclamar ou desistir… Por sorte não desisti, fui forte, amamentei chorando de dor, passei horas debaixo de um chuveiro quente desempedrando meu peito e sentindo uma das piores dores que já senti, tomei antiinflamatório, meu filho desistiu do peito que empedrou (e até hoje não gosta muito dele)… Mas por fim, amamentei exclusivo por 4 meses e meio, fiz 2 relactações e quando meu leite começou a secar novamente eu desisti da 3ª relactação, pq cansei mesmo!!! E agora descobri que não preciso me cobrar o impossível…

    Hoje meu filho tem 5 meses e meio, mama misto (LM e LA) continua feliz e saudável (nunca teve uma febrinha, nem uma tossezinha, nadinha de nada!) e o melhor, voltou a ganhar peso normal!!! Graças a Deus ainda existem mulheres humanas… Pq depois que conheci as “humanizadas”, quase acreditei que as humanas estavam extintas…

    • Patricia
      29 de Maio de 2012 at 19:43 — Responder

      Michelle,
      uma pena não termos publicado antes, mas fico feliz que você tenha respeitado o seu limite, mesmo que num segundo ou terceiro momento. Que as experiências somadas, possam ajudar outras mães, e amigas de outras mães. O importante é que a mensagem chegue e possa fazer o bem. Obrigada mais uma vez pelo seu depoimento.

  3. Daniela
    14 de Abril de 2013 at 20:25 — Responder

    Nossa eu lendo,me deu até vontade de chorar,pois no meu caso foi ao contrario eu q n quis amamentar minha segunda filha,pois amamentei a primeira até quase dois anos,e quis fazer diferente com a segunda,mas se arrependimento matasse eu ja estaria morta,pois tirei minha bebe do peito,mesmo ela querendo mamar =( acabou ela n querer pagar mamadeira,tive q dar só na colher sofri muito,mas tudo passa =(

  4. Renata
    8 de julho de 2013 at 13:35 — Responder

    Eu passei por tudo isso, sofri 42 dias, e anotei pra não esquecer… doeu, rachou, sangrou, empedrou e por aí vai… não desisti. Rafaela largou por vontade própria o peito faltando um dia para completar 2 anos.

  5. Renata
    2 de agosto de 2013 at 18:54 — Responder

    Também tive dificuldades para amamentar, minha filha nao conseguia pegar corretamente então nao mamava direito. E, como marinheira de primeira viagem, eu nao sabia se ela mamava ou nao. Com 15 dias de nascida ela perdeu quase 1kg, foi horrivel ouvir isso da pediatra, me senti culpada, pessima mãe…passa varias coisas na minha cabeça, mas tive grande apoio do meu marido e da pediatra, pois eu tinha bastante leite e minha filha estava bem de saude, apenas abaixo do peso. Li mto sobre amamentação, assisti varios videos, inclusive os da internet, para me ajudar na pega e nas posições para amamentar. A medica tb me auxiliou a esvaziar um pouco o seio antes dela mamar qdo estivesse mto cheio, para que ela conseguisse “pegar” corretamente, pecebi que as vezes ela pegava, mas era mto dificil pra ela, entao resolvi testar o bico de silicone da Avent. Foi perfeito, ela pega de primeira ate hj sem nenhum problema, alem de proteger um pouco o bico do seio, dá pra ver o leite saindo. Assim, ela começou a ganhar peso. No entanto, um dia ela pegou errado e eu fiquei com pena de mexer pq ela mamava tao bem e acabou rachando meu bico esquerdo, doeu bastante, sangra ainda, já tem quase 3 semanas e nao cicatrizou. Tenho evitado dela mamar nesse peito as vezes, tirando c a bomba e dando na mamadeira, alivia e percebo que qdo comecei a deixar o bico “descansar” algumas mamadas, parou de doer e melhorou um pouco. Passo a pomada de lanolina e minha medica prescreveu o bepantol pra cicatrizar (ajudou!). Estou preocupada de ter fungo associado (ja li sobre isso) e a pediatra recomendou pomada apropriada, pois disse que nao demora tanto pra cicatrizar. Desde que comecei a enfrentar + esse obstaculo, esse seio ameaçou empedrar 2 vezes, comecei a senti mta dor e reparei que nao saia + a quantidade de leite que costumava sair. O que me ajudou a nao empedrar foram bolsas de agua quente durante a mamada (cuidado c o rostinho do bebe) e tirava o leite desse peito c a bomba tb, ate esvaziar. Consegui que nao empedrasse. Hj minha princesa está com quase 3 meses, ganhou peso, cresceu, está mto saudavel. Ainda dói um pouco pra amamentar do esquerdo, mas a amamentacao ja é prazeirosa como nao era no primeiro mês.
    Normalmente ninguem nos avisa das dificuldades da amamentação, aprendemos na vivencia, na hora. Assusta um pouco, mas acredito que vale a pena insistir, tentar, pq é otimo tanto pro bebe como para mãe. Apoio da familia e a tranquilidade da mãe sao essenciais na minha opiniao.
    Espero que minha pequena experiencia possa ter ajudado alguma mãe! 🙂

  6. Ieda
    10 de julho de 2015 at 22:35 — Responder

    Obrigada pelo texto! Me falaram tanta besteira durante a gestação, mas sobre a real dificuldade em amamentar ninguém falou….queria ter lido seu texto antes….;)

    • Patricia
      15 de julho de 2015 at 15:12 — Responder

      Ieda,

      nem me fale o tanto de coisa que a gente escuda na gravidez. A má notícia é que é só o começo, você vai ouvir bem mais e nessa horas sigo o sábio conselho da minha mãe e faço “ouvido de mercador” ou seja, filtro o que interessa.

      bjs

Envie uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Voltar
COMPARTILHAR

Superando dificuldades na amamentação