Começar de novo

“Andá com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”

Andar com fé – Gilberto Gil

Ninguém se casa ou se “junta com fé” pensando em um dia se separar da pessoa amada. Mas acontece nas melhores famílias.  Separação de casais, divórcio, isso tudo já foi tabu, hoje não mais.  É comum em uma turma de colégio encontrar um número significativo de crianças “filhos de pais separados”.  Há até aquela “história clássica” da criança que um dia indaga aos pais: Por que só eu tenho pai e mãe morando na mesma casa?

A sociedade e as leis lapidaram com generosidade o olhar para esta questão, mas, cá entre nós, separação de casais sempre terá muitos tons de… Preto.  Você vive um luto. Por mais bacana que seu companheiro seja, por mais madura que seja sua relação, por mais que o amor tenha acabado e blá, blá, blá. Você e, fatalmente algumas poucas pessoas queridas a sua volta, estarão de luto. Porque o sentimento de perda é inevitável. Perda da condição financeira, perda da convivência com aqueles familiares e amigos dele que são queridos, perda do filho em finais de semana, feriados e afins, perda de um companheiro – nem que seja só para reclamar – perda de um pé maior que o seu para encostar à noite, perda da fé no amor, perda de muitos sonhos!

Triste, né? Mas necessário. É preciso viver o luto. E a raiva, a decepção, o ciúme, a inveja, as inseguranças, a depressão, a empolgação… Bem-vinda, você acaba de sentar no banco de uma montanha russa emocional. E ela vai dar voltas, muuuuitas voltas! Em um primeiro momento pode te deixar com um sorriso no rosto, pela bela vista que se descortina e a sensação de liberdade. Mas em seguida você pode ficar tonta, às vezes bem confusa, virar de cabeça para baixo, se jogar de um lado para o outro, até gritar, chorar, se desesperar e, muito provavelmente, cortar o cabelo! Calma, faz parte.  E, por favor, não se culpe.

A culpa não ajuda NADA e ainda alimenta todos aqueles sentimentos mórbidos da separação.  Aliás, alimentação é um caso à parte. Ou você se alimenta da dor e definha, ou você se alimenta de tudo que for mais saboroso para você (normalmente são os alimentos mais calóricos), em função da clássica “lei da compensação”. Afinal, você merece ao menos todos os chocolates, recheios, queijos e frituras desta terra.

Como diz a escritora Stella Florence no adorável livro O diabo que te carregue, uma separação pode ser, na melhor das hipóteses, civilizada. Em alguns muitos momentos você vai sentir raiva do seu ex marido. Raiva mesmo, com dezenas de “r”s maiúsculos! Não vai ser coerente, politicamente correta ou tolerante.

Mas passa. Parece lugar comum, mas o tempo, sim ele, será de fato seu grande aliado. E o Dr. Tempo – ao lado de um bom terapeuta, se você puder ou quiser – vão cuidar lentamente das feridas e do rito de passagem. Como boa virginiana, posso afirmar que aos poucos vamos reorganizando a vida nas gavetas. Seu ex vai ficando cada vez menos presente e relevante na sua vida e rotina. Arrumamos emprego ou trabalho, damos um jeito de fechar as contas com a pensão, de organizar a agenda, de estar em paz sem o filhote do lado, de abraçar um travesseiro bem fofo… Abrimos antigas gavetas como, Momentos Inesquecíveis Com Amigas, Azaração, Beleza, Ócio, entre outras!

Até que um dia você se pega feliz, cercada por pessoas queridas, molhando os pés no mar de Copacabana, depois de ter dançado muito em cima de um salto 12 (sim, você ainda é capaz de subir no salto!), contemplando o sol nascer… E agradece a Deus por toda sua trajetória.  Você sobreviveu!

 

 

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